Como nos filmes de seção da tarde
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E depreciativamente os filmes da seção
da tarde são chamados de feitos por Walt Disney, isto é, películas de sinal
feliz. E final feliz não é meta dos grandes filmes, o chamado cinema maior,
tipo Ladrão de Bicicleta (De Sicca), ou meu preferido Amacord (Fellini), ou da
saga Woody Allen, ou Morangos Silvestres, ou alguma película distinguível
pelos Cahiers du Cinema. Filmes de final alegre, leves, de amor correspondido
e de “happy end” não servem, posto que não acontecem, já que, resumindo, toda
a vida termina na morte e filmes alegres não elevam a sétima arte. E hoje
aconteceu um trecho de filme de seção da tarde. Ora vejam! Estavam na Pousada
Altenhaus. Nela já haviam comemorado bodas de ouro e de diamante naquela
segunda casa deles. Era terça-feira e os parentes só subiriam no fim de semana
e no whatsApp da família já tinham espocado os votos e os dois velhos foram
até chamados de pombinhos por neto. E o bisavô vai ao Supermercado Extra, que,
ficando em pousada por um mês, utensílios são precisos e tinham que ser
comprados. E se foi o velho ao mercado no Honda Fit de seis anos de idade e
pouco rodado. Já tinham trocado os presentes de praxe, só que vasinho de
plástico, seis reais, com florzinha silvestre foi comprado no Extra. A
parceira de 64 anos de casados estava tomando um solzinho. O velho não estava
jogando para a plateia e deu as flores, pensando que o ato não chamaria a
atenção de outros hóspedes. Engano, foram saudados por palmas de três alegres
senhoras, que também tomavam sol. E perguntaram o porque das flores. 64 anos
de casados. Que música era a de vocês? September Song. E no celular de uma das
senhoras, Ella Fitzgerald brindou as cinco pessoas com terna interpretação da
música do casal, onde os principais fatos ocorriam em setembro. As três
senhoras ficaram ao sol de Itaipava e o casal voltou ao seu quarto com as
ternas flores silvestres, que nunca sonharam ter cena em pelo menos um quadro
final feliz e de um casamento idem. Algum percalço no casal? Estamos na seção
da tarde e o cronista não visa tirar o Oscar, ou mesmo qualquer prêmio menor
literário e, assim sendo, pode pôr ponto final e com sorriso nos lábios.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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