Uma história interessante e dúvidas
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E, mesmo sem querer, será didática. E se o didatismo vem encoberto, ainda
faz mais efeito. Aconteceu em Corte, que ainda as há, ainda que com outros
nomes e gambiarras. E se é corte, mesmo com diversa denominação, tinha um
anão, que era o bobo da corte. A velada censura, que é chamada de
politicamente correto, avisa-me que não se deve falar em anões, ainda mais
quando são bobos. E o anão da história era o mais lúcido e inteligente daquela
corte. Se assim não pode ser nomeado, troquemos, para não deixar de contar a
história, tão bela, que virou lenda. Permito-me um parêntese. Apesar das
intenções, às vezes com bons propósitos, como ficariam os marcantes e hilários
personagens do gênio Chico Anysio. Ou a “Um gago apaixonado” do romântico
musical Noel Rosa da nossa Vila Isabel (e um viva a Princesa e sua Lei Áurea),
ou Lamartine Babo, dos ótimos hinos, onde se destaca o “sou tricolor de
coração, sou do clube tantas vezes campeão”, agora apupado pelo “O seu cabelo
não nega”, o tal de como a sua cor não pega, mulata eu quero seu amor. Seu
Lalá era mulatólogo de carteirinha, criou elogio de peso para as ditas do sexo
fraco, agora e com orgulho recebendo empoderamento. Diga-se que apoio
integralmente a ascensão da mulher em todos os campos, implico com o termo
empoderamento, ainda que apoie, já disse, o crescimento do sexo feminino em
todos os cantos da sociedade e até nos desvãos , que é a política. Volto ao
seu Lalá para lhe dar os parabéns pela criação do adjetivo elogiativo
pancadão. Que mulher não gostaria de ouvir seu ser amado, dizer-lhe no
ouvidinho sem piercings, você é meu pancadão e eternamente. Nada de enquanto
dure, já que é elogio eterno. E como o Brasil é pleno de pancadões e cito
três, quando poderia citar mil e ficariam vários pancadões ainda de fora.
Camila Pitanga, Taís Araújo e Sheron Menezes. Nem vou à discussão se é negra
ou mulata, só que são lindas. E nem falei na musa eterna de Di Cavalcanti,
Marina Montini. Volto à história, que me levou a dispensáveis pormenores e, se
falei de mulatas, são “pormaiores”. Era o bobo da Corte. E lá vem o
politicamente correto reclamar que bobos não gostam de ser chamados de bobos e
ficam ofendidos, ainda que neguem nos palanques da vida, que são bobos. No
âmago sabem que são bobos e paro com as citações, que alguns vão por carapuças
e então me ferro, pois têm poder e em Brasília e até na Lagoa do Abaeté, que
segundo Caymmi, tinha uma lagoa escura, arrudiada de areia branca. Será que a
designação de água escura com os envolta de areia branca, areia branca
repetida, pode incomodar os da censura, dita politicamente correto? E a
história interessante prometida acima? Fica para outra época, pois temo
censura, que a enfrentei aos 9 anos (1944) e não gostei. Estudava em escola
pública e tentei levar Caçadas do Pedrinho e As reinações de Narizinho para a
biblioteca da Escola Municipal Duque de Caxias, no Grajaú e a professora,
muito triste e pesarosa até, avisou que não podia, que o DIP do Estado Novo,
leia-se os quinze anos de Getúlio Vargas, não permitia os livros de Monteiro
Lobato nas bibliotecas escolares, que o autor era comunista. Coitado do grande
vulto, sempre perseguido e pelos censores atuais pela sua terna Tia Anastácia.
E quando conto a interessante história? Não conto, até porque já estou com 86
anos e bem vividos, infelizmente em tempos muito censurados. Como dizia o
“filósofo” Ibrahim Sued. A demain que eu vou em frente. E com o mesmo literato
prossigo, os cães ladram e a caravana passa.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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