Boleros, tangos e João
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Bolero é um gênero de
música, que se originou no leste de Cuba no final do século 19, como parte da
tradição trova. Sem relação com a dança espanhola mais antiga de mesmo nome. O
bolero é caracterizado por letras sofisticadas, que tratam do amor. Wikipedia.
Dei logo a fonte, pois sei que há controvérsias sobre o assunto. Os boleros
pelos mais novos são julgados cafonas. E por que hoje venho aos boleros?
Porque julguei muito bem lançado o “Frio en el alma” (autoria Miguel Angel
Valladares). Já sentiu frio na alma? O referido bolero explicava “porque no
estas comigo”. Só que o frio na alma pode acontecer por causas várias e até
por época aziaga. E voltando aos de Cuba e julgava que o bolero nascera na
Argentina e se Gardel se fez no tango, um espanhol, que durante muito tempo
julguei argentino, fez-se no bolero. E foi sucesso especialmente no Brasil.
Gregório Barrios, um cantor que arrebatou os que eram amarrados em boleros,
que desbancou tangos para dançarinos comuns, que bolero é menos complicado,
mais juntinhos, enfim muito palatável. O meu tango preferido se chama
"Nostalgias" (Juan Carlo Cobián). E parente já me gozou, visto que o tango se
inicia com “Quiero emborrachar mi corazón”. Emborrachar foi o termo não aceito
e gozado. E em boleros, fico com “Una mujer”. A letra fechará a crônica. E
largo músicas para ir ao idioma espanhol. Muitos falam um portunhol, pensando
falar espanhol e até presidente argentino, já em tom de blague, disse ao
Mestre Sarney que o portunhol dele era ótimo. O dito em questão diplomática
pode ser um fora, só que foi espirituoso e engraçado. E tenho colegas que não
conseguem ler matéria médica em espanhol, tanto se acostumaram aos textos em
inglês. Em alguns casos não é esnobismo e sim falta de se adaptar ao espanhol,
ao castelhano e nem me peçam para diferenciar um do outro. A moçada Beatles,
nada contra eles e muito pelo contrário, não vê graça em tangos e boleros.
Ainda que Mestre Maca, para os menos entendidos Paul Mcartney, já de
brincadeira tenha cantado um bolero. Pena tenho dos que detestam boleros,
porque em matéria de músicas para dor de cotovelo tangos e boleros são ótimos,
com letras de até a do frio na alma. Ah, dançar bolero com a amada! Quem foi
muito a boleros? Nosso genial, repito, genial, João Gilberto e até ressuscitou
os velhos “Eclipse” (Alberto Lecuona) e também o “Farolito” (Agustin Lara). E
toda música com o João ganha beleza. E quase fecho com o João em italiano.
“Estate”. Se não ouviu "Estate", procure e agradecerá à crônica. O fim fica para
um bolero, já citado e talvez meu amigo do politicamente correto não aprecie a
letra, que, censurando, não tem tempo para romantismos. “Una mujer” (Paul
Misraki). Obs. E se prefiro músicas em espanhol? Desculpem-me, só que nada do
acima se compara a “Chão de Estrelas”, “Carinhoso”, “Até pensei”, “A deusa da
minha rua”, “Chovendo na roseira” e mais mil músicas da MPB antiga. E nem
falei na Garota de Ipanema, na Tereza da praia, ou na Banca do distinto.
Citando essas joias brasileiras, desisto da letra de "Una mujer", que meu dileto
amigo Google pode mostrar aos interessados. Outra obs. João Gilberto tem duas
gravações espetaculares de "Estate". Ele com violão e com grande orquestra. A
escolher.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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