Que vão dizer?
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Que murmuren – bolero de Eliades Ochoa, cantado primeiro por
Gregório Barrios e depois por Dolores Duran, Altemar Dutra e outros. Tem a ver
com o texto. “No me importa que murmuren.” De fato, se vivemos em
sociedade, é necessário pensar em algumas repercussões que alguns de nossos
atos podem permitir. Se alguém tem proeminência, deve também se preocupar com
os julgamentos da posteridade. Muitos tentam mexer seus pauzinhos, para que
Dona História lhes pinte em cores exitosas e não com as decepções que seus
atos fizeram por merecer. Só que a verdadeira História costuma ser veraz e
historiadores lutam por preservar o fato acontecido e não o que foi retratado
nos momentos das ocorrências. Vejo muitas histórias recentes serem mal
contadas. E acredito que alguns, olhando no espelho da autocrítica honesta,
pensem no julgamento, por exemplo, da neta querida. Gostariam que este
descendente pensasse, vovô foi um homem de bem! Só que este julgamento não
acontece. O avô agiu sem pensar na posteridade, ou teve a impressão que
poderia comprar uma boa avaliação com os dinheiros escusos conquistados. E a
neta viu seu verdadeiro retrato histórico. E se escrevi sobre a necessidade da
boa imagem pública, vou às ações de alguns particulares conhecidos no meu dia
a dia. E é uma contrapartida, porque há também uma censura prévia, pessoal e
mal dimensionada sobre o que vão dizer. Estas pessoas vivem em sobressaltos em
função das vozes no em volta. Vou dar exemplo prático. Sua filha namora, só
que mesmo chovendo canivetes, o namorado tem que, às vinte e duas horas,
ganhar a rua, pois, se fica, que dirão as fofoqueiras do prédio. Ela própria
viúva e sem ter coração partido pela morte do pilantra e ex marido, gostaria
de voltar à sua vida normal e usar roupas condizentes com sua vontade e idade.
Que dirá sobre suas roupas normais a Tia Euzébia, que mora perto? Era devotada
ao falecido e agora quer ser a juíza da sua vida. Inclusive de seu guarda
roupas. Pior é que a viuvinha e não é uma das viúvas do nosso Machado de
Assis, veste-se e age para não chocar a Tia Euzébia e sem seguir suas naturais
vontades e moda. E sua atenção e comportamento se acanham perante o que vão
dizer. E muitas situações desnecessárias vive, pois agiu censurada pelo que
vão dizer. E vozes sem qualquer importância em sua existência apequenam sua
vida, pois não tomou as atitudes e ações devidas, porque deu vaza ao que vão
dizer. E muitos amores esbarram e não ocorrem, porque um dos amorosos não teve
coragem de ir ao sentimento, com medo da maledicência alheia. E, perder o
amor, pode ser a perda da única salvação de uma existência. Ninguém pode, por
falar e na maioria das vezes sem razão, viver em função do que vão dizer. Há
bolero que conta em espanhol, passado agora para portunhol, avisando. Falem o
que falem, digam o digam, tu me pertences, esta é a verdade. Então não ligou
ao que falavam, ou diziam, pertenciam-se, esta sim é a verdade histórica dos
sentimentos de uma vida. Muitas vezes vozes de “malquerência” se levantam
solenes e estão baseadas apenas em preconceitos, racismos e vidas pessoais
raivosas. Adeus, vozes sinistras, penso por mim e tomo decisões condizentes
com o que de fato penso e julgo. Adeus ao que vão dizer!
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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