16/08/2021
Ano 24
Número 1.234




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Retiradas ao leu da MPB

Não acredito que os autores, das a serem citadas músicas, tenham-nas escrito para serem emblemáticas, ou ao menos simbólicas. Letras, músicas, vários interpretes e tanto a dupla Tom/Newton Mendonça, quanto Billy Blanco, estavam acostumados ao sucesso. Tom teve como o parceiro Vinicius de Morais com a música brasileira mais cantada no mundo (Garota de Ipanema), que desbancou Ary Barroso com “Aquarela do Brasil”. E com razão, já que aquarelas não costumam mostrar o doce balanço, que a garota mostrava no caminho do mar. E foi Tom chamado aos “estates” para cantar e gravar com Sinatra. Querem mais! Newton Mendonça fez muita música boa com Tom e cito “Desafinado” e há mais, muito mais. Já o arquiteto Billy Blanco nos deixou ótimas letras e no seu vasto currículo amoroso entra até a formidável Dolores Duran. Conta-se que Dick Farney se apaixonou por aeromoça e pediu ao Blanco que escrevesse sobre a felizarda. E saiu “Aeromoça”, “com esta flor a bordo, eu concluo então, é bobagem medo de avião”. Se a moça não caiu nas garras de Farnézio Dutra, era de ferro. Farnézio, Dick, era irmão do galã Cil Farney, na certidão de nascimento Cileno Dutra. Cileno ainda é melhor que Farnézio. Escrevo, escrevo e não chego aos alhos com bugalhos, isto é, às músicas do título. Discussão. Diz-se que com a discussão se chega â luz. E diariamente câmaras de todos os poderes, até as supremas, mostram que a tal luz é quimérica. Só que no amor a música “Discussão” de Tom/N. Mendonça merece segmento, isto é, ser levada à vida real de casal. É linda, música e letra não discutem, fusionam-se e para mim são valiosas as sugestões da letra. Já a “Banca do distinto” é para ser ouvida, absorvida e seguida. Mostra-nos que esnobismo, soberba, tolo orgulho, a nada levam. Todo mundo termina com terra por cima e na horizontal. Esqueçamos cremações. E para não mais a crônica andar em gelo fino e o cronista cair em águas geladas, peço a atenção para as duas letras, se possível ouvi-las com João Gilberto. Já valeu chamar o doutor de distinto! Viva a música popular brasileira.

Discussão
Se você pretende sustentar opinião/ E discutir por discutir
Só pra ganhar a discussão/ Eu lhe asseguro, pode crer
Que quando fala o coração/ Às vezes é melhor perder
Do que ganhar, você vai ver/ Já percebi a confusão
Você quer ver prevalecer/ A opinião sobre a razão
Não pode ser, não pode ser/ Pra que trocar o sim por não
Se o resultado é solidão/ Em vez de amor, uma saudade
Vai dizer quem tem razão/ Eu lhe asseguro, pode crer
Que quando fala o coração/ Às vezes é melhor perder
Do que ganhar, você vai ver
Já percebi a confusão/ Você quer ver prevalecer
A opinião sobre a razão/ Não pode ser, não pode ser
Pra que trocar o sim por não/ Se o resultado é solidão
Em vez de amor, uma saudade/ Vai dizer quem tem razão

Banca do distinto
Não fala com pobre/ Não dá mão a preto/ Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor?/ Pra que esse orgulho?
A bruxa que é cega esbarra na gente/ A vida estanca
O enfarto te pega, doutor/ Acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o tonto no alto retira a escada
Fica por perto esperando sentada/ Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do tonto/ Afinal todo mundo é igual quando o tombo termina/ Com terra em cima e na horizontal
Não fala com pobre/ Não dá mão a preto/ Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor?/ Pra que esse orgulho?
A bruxa que é cega esbarra na gente/ A vida estanca
Trombose te pega, doutor…


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação eletrônico ou impresso sem autorização do autor.