Vocês dois conversam?
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Constatei mais uma diferença entre gerações. Ou estarei tirando uma
conclusão errada, baseando-me no meu casamento? Veremos. Dou-me, ainda bem,
com vários casais mais novos, da família e de amigos. E me encontro com um dos
dois, vá lá, cônjuges (palavra terrível, talvez se deva também a ela a
fugacidade dos atuais casamentos! RS RS RS (será que é lícito colocar erres
esses em crônica?) e um assunto de realce vem à conversa. Um acontecimento
engraçado, importante, ou digno de registro. Tempos depois me encontro com o
outro cônjuge e aquele assunto é citado. Este segundo cônjuge (tento
acostumar-me a usá-la) nada sabe do acontecido e contado. Os dois não
conversaram sobre ele e este segundo nada sabia. Usando um termo de minha avó,
fico com cara de tacho e talvez tenha falado demais. Qual a origem da
expressão cara de tacho? A origem deste anexim é outra história. E então conto
de novo o caso, que sei, interessa ao interlocutor. Ele ou ela não havia
contado em casa, fica constatado. Correrias da vida moderna, dirão. Correm
atrás do progresso e vão ao retrocesso. E verifico, os da nova geração são
mais informados do que os da minha, só que são unidirecionados. Não lhes
apresentem vários problemas concomitantes, melhor dizendo várias atividades ao
mesmo tempo. Neste dia tem que se preocupar com algumas atividades. Vão a que
julgam mais importante e deixam as demais. Se têm um “hobby”, não terão outro,
enfim não tocam vários instrumentos. Dirão, não há tempo. Para aquela conversa
também não houve tempo. Um estava na Internet e outro no curso. Encontram-se
mais na cama do que na mesa. Outra constatação. Se têm um problema sério,
descarregam logo nos ombros de um da geração mais antiga. Deixam o fardo e
saem mais aliviados. Que aquele mais velho o carregue e resolva, se puder . E
como gostam de dizer que envelhecemos e por esta razão biológica, inevitável,
fizemos isto, ou aquilo. E esta minha crônica, neste aspecto, será um prato
cheio. Fartem-se e, por favor, comentem-na com o outro cônjuge. Será um
início, para se acostumarem a comentar a vida, uma das facetas mais deliciosas
do viver a dois. E a vida a dois pode ter momentos excelentes, se os dois
conversam, trocam ideias, têm tempo um para o outro, enfim se amam.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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