Ninhos
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Lendo o “Elas” – O Globo deste domingo, vi
lindo ninho. E o pomposo douto pensará. – Que absurdo confessa que lê o Elas.
Confesso e não há o porquê confessar. Sim leio o Elas, a Veja, o Globo, o
RelevO; ouço a CBN e muito, com especiais destaques para Cássia Godoy e Bianca
Santos, entro quase diariamente no Net Flu, na MSN, no G1 e nos sites da minha
especialidade, que me mantém atualizado; estou lendo ”Hereges” de Leonardo
Padura e arranjo tempo para rabiscar algo, escrever crônicas quinzenais para a
Rio Total, contando com a boa vontade da Editora Irene Serra; ver filmes e
séries e sempre com saudades da Dontown Abbey; ouvir música e ainda ficar
estarrecido com o Brasil nestes últimos quatro governos. E sem aliviar nenhum
dos poderes, ainda que a frase de Churchill sempre me norteie. “Ninguém
pretende que a Democracia seja perfeita, ou sem defeito. Tem-se dito que a
Democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm
sido experimentadas de tempos em tempos”. Winston Churchill. Então os doutos
já viram que, parodiando Belchior, sou apenas um velho comum. Ainda que sem
grandes pecados até então. Volto ao ninho, que vi na Elas. De que pássaro, não
sei. Ninhos sempre me impactam e louvo o João de Barro e seus arquitetônicos
ninhos. Contava a lenda que, quando a fêmea traia o macho, este a emparedava
no ninho. A tal defesa da honra, em boa hora neste março de 2021, cassada pelo
Supremo. E como é bom bater palmas para o STF, ainda que raras! Mestre Helmut
Sick, um dos meus heróis, estudou cientificamente os pássaros brasileiro e
escreveu Ornitologia, na qual não desprezou o folclore. Nunca foram
encontradas fêmeas emparedadas e sim filhotes. Por que filhotes? Encontrando
um, que aceite responder e sem dar aquele grito de guerra tonitruante,
pergunto. E como há pássaros que capricham nos ninhos nos mais estranhos
lugares e depois que esforço fazem para alimentar os piantes filhotes. Gosto
da comparação de ninho com aconchego familiar. E há pássaro muito malandro.
Onde não há malandros em terras tupiniquins? O chopim, também chamado
vira-bosta, que põe seus ovos em ninho alheio e assim não tem o desgaste dos
demais pássaros. Em maioria os donos dos ninhos, vendo ovos estranhos, jogam
fora e cuidam dos seus. Só que o Tico-tico, que a música colocou no fubá,
cuida dos ovos do velhaco e chopins são pássaros de tamanho duplo em relação
ao Tico-tico. E fica aquele filhote enorme atrás do Tico-tico, que se esfalfa
para alimentar o filhote, que, sendo grande, nunca está satisfeito com o
alimento, que o pai postiço lhe dá. Crescido, bate asas e que vá cantar o Tico-tico no fubá. Forçando comparação e é genérica, usualmente o político é o
filhote de chopim nas eleições. No palanque pia e pia. Depois como se pode
olhar no espelho, sem tomar um anti emético? Vale ler a crônica, em que Mestre
Carlos Drummond de Andrade saudou Helmut Sick e que se chama “O Sábio
discreto”. Merece ser procurada. É contra capa da Ornitologia Brasileira, obra
fundamental sobre o tema e que muito elogia a avifauna do Brasil.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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