Momento estupefato
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“Em época de crise, que se procure ao menos um sorriso, mesmo se para tal
um termo chulo tenha que ser aceitado.”
Transportar dados acontecidos e sob
determinadas condições, muitas vezes ao serem digitados, eles, que foram
motivo de gargalhada, contida em especial ocasião, no papel ganham chocho
efeito e nem muxoxo merecem. Tentemos pelo impacto atingir o fim desejado.
Ainda mais se os bons costumes determinem que certas palavras devem ser
omitidas. Aí então é que a graça passa longe. Estamos em clima tão preocupante
e sob todos os aspectos, inclusive médicos, vide pandemia, que uma gargalhada
vai muito bem e deve ser cortejada com ardor. Talvez este fato desculpe o
escriba e sua derrapada. Busquemos motivos para rir, faz bem. Se sou a favor
de palavrões? Em princípio sou contra, ainda que para topada defenda que a dor
minora com tremendo palavrão. Afianço que tenho provas pessoais do benefício,
posto que, se não dei muitas topadas em ações gerais, com batidas de dedões
tive inúmeras experiências e com palavrões anestésicos. E como me tenho saído
com termos chulos em literatura, lembrando até que o corretor do Word é
rigoroso e noutro dia implicou com porrada. Tento outra, descrevia ato em
pessoa de quinta categoria e coloquei mijou e fui advertido que devia por
urinou. Cavalheiro daquela triste conduta não merecia urinar e sim mijar e em
mictório fétido e poluído. Evoluiu, ou não este tipo de correção? Deixo-lhe o
critério da escolha. Voltei ao texto e encontro os dois termos sublinhados em
verde. Enfim o corretor não aceitou e talvez tenha razão, até porque no trecho
não se angariava qualquer graça, nem havia topada. E depois deste preâmbulo,
tipo “habeas corpus preventivo”, vou à história que pretendo ser hilária e é,
até por ser verídica. Se não foi comigo que ocorreu, conhecendo os dois
personagens, ambos boa gente e de meu antigo conhecimento. Um sentado na
cadeira do médico, outro na do paciente. Anos e anos de contato e que
granjearam estima bilateral. O médico, meu amigo, sério ainda mais no
consultório e o paciente vale descrição alongada. Português, bem postado na
vida, dono de indústria, cerca de cinquenta anos, casado, bom chefe de
família, magro, homem austero, sempre de terno, educado e com ótimo
palavreado, ainda que sobrasse um longínquo sotaque do “jardim da Europa
à
beira mar plantado”. O médico não precisava preocupar-se com seu peso, que o
paciente não era dado a digressões gastronômicas, ou de qualquer outra
espécie. Diga-se que era homem de muitas amizades. Talvez um jovem o julgasse
por demais conservador, fato que era, mas nem disto se vangloriava. Se quero
ser mais veraz, conto que era burguês típico e pobre da sociedade que não os
tenha, para suportar os trancos políticos, apesar do ódio que lhes determinada
socióloga. Torça-se também para que a sociedade como um todo não seja
burguesa. E eis que chego ao clímax do que conto e não pense que invento.
Falavam da situação atual do País e este fato tem lá uns vinte anos. E médico
e cliente comentam os últimos escândalos políticos e o Sr. Bento Maria diz
enfaticamente ao médico, quando estavam em fim de consulta, receita pronta e
exames solicitados. - Meu caro Doutor, não sei onde vamos parar, posto que a
moralidade está perdida. Como o Doutor sabe moro em casa e de frente da minha
mora um amigo, homem de moral ilibada, que sempre viveu para sua família e até
suas filhas foram companheiras das minhas no colégio. Eis que, ontem à noite,
ao ir fechar minha janela do quarto, que estava cansado e pretendia dormir
mais cedo, vi a filha do meu amigo, menina que vi crescer, às “caralhadas” com
o namorado. O Word grifou em vermelho.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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