Azeitonas, pastéis e músicas
|
|
No tempo da minha entrada para a
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores-RJ, conforme proposição de quem
veio a ser grande e saudoso amigo, poeta Luiz Gondim, era praxe todos os
participantes lerem algo, a ser comentado pelo plenário. As reuniões se
chamavam tertúlias, achei o título meio mofado, mas os mais antigos naquela
época tinham grande apreço por ele. Ao fim da minha arenga em tertúlia, douto
e premiado médico escritor julgou oportuno colocar o neófito no bom caminho
das letras e do alto de seus merecidos prêmios me avisou que não era
conveniente colocar azeitona no pastel dos outros. Trocando em miúdos (ótima
música do Chico Buarque), aconselhava o confrade (confreira ainda é pior) que
citar outros autores no que escrevia, era pôr azeitona em obra alheia. No caso
presente, na crônica lida e aplaudida, até que chegou a vez de quem falou em
azeitona, deu veredicto e veio com a história do pastel, vale contar que minha
citação era a respeito de obra do Chico, de quem sou seguidor literário, não
político, desde que vi, ouvi, em Festival da Canção, “Pedro Pedreiro”. Se
segui o conselho do confrade? No caso em tela não, até porque minhas
azeitoninhas são migalhas diante da obra literária do meritório vencedor do
Prêmio Camões de 2020. Também nunca vou me furtar de elogiar o que me agrada.
Se não me agrada e não sendo crítico de carreira, não solto elogio vão, fico
na minha e segue a roda. Crônicas são para contar e, saindo da culinária, vou
a suposições que fazem sobre meus costumes. Vamos à música prometida no título
dessa. Fiz impoluta chefa de gabinete de determinado órgão previdenciário
ficar em estado de choque. Conto coisa antiga. Rua Inhaúma, perto do Arsenal
de Marinha e embaixo da sede do SASSE havia loja de discos long plays. É já
houve bolachas, que começam a voltar. E a chefe de gabinete, com seu sorriso
plantado, fez-se de curiosa sobre o disco da minha aquisição. - Que disco
erudito vai adquirir o jovem Chefe do Departamento de Assistência? Fiquei no
cargo por doze anos e julgo que valeu para instituição, que foi fechada, já
que não dava prejuízo e no departamento de assistência para todo o Brasil não
ocorreu roubo, que eu soubesse, ou aceitasse. Paguei pessoalmente caro, por
tentar fazer algo técnico e honesto por 12 anos. Voltemos à compra de... E
estávamos na casa de discos em 1968/9, avisei que estava comprando o long play
dos Novos Baianos, “Acabou Chorare”. E por rara vez tive a honra de ver na
fisionomia da dita Senhora, o que de fato pensava. Se ela fosse o presidente
do instituto, o admirador dos Novos Baianos estaria ferrado e demitido. Só
faltou ela pedir ao dono da loja meus sais. Não, não teve chilique e minutos
depois voltou a exibir seu estereotipado sorriso, agora menos derramado que
antes. Vejam só, chefe de departamento comprando este tipo de disco! Aduzo, se
não mais tenho o long play e foi pena dar, que tenho em CD e Baby, Paulinho
Boca de Cantor, ótima designação, Pepeu Gomes e Moraes Moreira ainda me
encantam em “Acabou Chorare”. É verdade que nesta pandemia tenhamos muito que
chorar e até pela direção que não temos. Que trapalhada fizeram na compra de
vacinas e alhos técnicos ficaram imbricados com bugalhos de toscos. E se há
quarentena e amantes confinados se estranhando, voltemos à música. Ouçam
“Discussão”, Tom Jobim/Newton Mendonça e na voz de João Gilberto. “Às vezes é
melhor perder, do que ganhar, você vai ver”. Concordo e ponho várias azeitonas
sem caroço e com aplausos para os três grande artistas.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação
eletrônico ou impresso sem autorização do autor.
|