CONTAM
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E vou escrever sem dizer nomes, até porque julgo meio forçada a ocorrência,
então ficamos no, se é que aconteceu. Dois grandes poetas, maiores em sua
época e amigos, conversavam. Já era de estranhar que dois grandes poetas
fossem amigos, até porque os grandes literatos só costumam ser amigos de
bajuladores, dele e principalmente dos de sua obra. Por exceção estes eram, ao
menos na lenda, amigos. E um diz ao outro. _ Soube que você andou pelo bairro
com sua amante. No bairro onde mora com sua mulher e filha! _ Você ainda não
percebeu que sou um canalha? Pano rápido. Louvo hoje a crônica em O Globo de
Roberto Damatta, 05 de agosto de 2020, em tempo de pandemia. Intitula-se “Quem
somos”. E cabe a cada um perguntar quem sou e sem os véus diáfanos da
hipocrisia. Dizem que a hipocrisia é pleito que o vício presta à virtude.
Pensando bem, as complicações da pandemia são tão intensas que talvez a
pergunta, que merece ser feita e em frente a espelho, estando só no quarto, ou
banheiro, deva ser adiada. Quem sou? Talvez seja melhor no banheiro, onde há
descarga em caso de vômitos. E a indagação feita, mesmo depois de passada a
pandemia pode provocar engulhos. Se após a pergunta feita com propósitos
honestos e respostas idem e não valem avaliações de outros, tudo bem. Tem que
ser a própria averiguação e sem CPIs encobridoras. Se após a pergunta feita, o
resultado vier só com uns roxinhos, alvíssaras. Sei, conhecia apenas os tons
de cinza e venho agora de roxinhos. Vamos então à piada e piadas estão caindo
de produção, infelizmente. E em piada não há o politicamente correto e como o
fito é arrancar risadas, instantes alegres, não há intensão de bullying, ou
fake. É piada apenas. Morre a irmã do Joaquim e ele muito contrito e pesaroso
vai ao florista do cemitério. Quer homenagear a irmã com sentida coroa. E lhe
pergunta quem recebe a encomenda. De que cor? Nunca mandei coroas e nada
entendo delas, dê um conselho. Se sua irmã era virginal, mande coroa branca,
se for mulher vivida, mande roxa. Joaquim pediu tempo, avisou que com a morte
não se brinca, pensou e soltou. Coroa de flores brancas e apenas uns respingos
em roxo. Então auto avaliação inteiramente branca, não vá esperando. Pequenos
deslizes, quem não os tem? Se não matou, não roubou, não propositalmente feriu
alguém, sempre teve em mente o bom propósito, se amou sem trair amigos e amor,
apenas saiu com respingos roxos, diga ufa e internamente se parabenize. E
merece ir logo a um mau pensamento, só que deve ficar apenas no pensamento. Se
chegar à conclusão que sua coroa de vida é roxa, não vá ao suicídio, que
também é crime e no qual também nunca pensou. Procure que sua coroa, de agora
em diante, vá ter uns salpicos brancos. Tê-la agora branquinha, ou que
prevaleçam os brancos, honestamente me parece difícil, até porque tenho dúvida
desta sua auto avaliação, com base em tantos roxos em sua existência.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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