16/07/2020
Ano 23- Número 1.181

 

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PEDRO FRANCO

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Consultas não presenciais

Pedro Franco - CooJornal

Ou Tele Medicina. Assunto vespeiro. Não posso afirmar que sou contra, já que há mais de 58 anos as realizo, ainda que sem televisão, só que por telefonemas entre paciente, que telefona e médico que atende. No meu receituário há item que coloca meus telefones pessoais à disposição do pacientes e recomendo até que tirem dúvidas. Reproduzo o primeiro item das recomendações do receituário: ATENÇÃO. Leia e releia esta receita. Se persistir alguma dúvida, esclareça pessoalmente, ou por telefone. Então em princípio não sou contra contatos extra consultório entre o binômio médico paciente. Santos Dumont morreu desesperado porque fizeram do mais pesado que o ar, arma de guerra e dela jogaram até bomba atômica. E várias descobertas perderam suas finalidades precípuas e persistem mal usadas. E ninguém pode ser contra o progresso da aviação. Dumont só não desejava que um instrumento de transporte, inventado para a paz, virasse arma de guerra. Nesta guerra atual, para a qual a humanidade não estava preparada, muito menos os países emergentes, batalha do COVID 19, as consultas não presenciais podem servir, só que não podem perdurar depois, como solução majoritária. Podem valer em situações excepcionais. Temo que os que se servem mais da Medicina, do que a fazem, Medicina, com propósitos pecuniários, convoquem médicos em início, ou fim de carreira, carreira que urgentemente precisa ser revista, precisando prover o pão de cada dia, por consulta não presencial recebam muito menos que as consultas onde o binômio médico paciente, com tempo suficiente, repito, com tempo suficiente, possa fazer o melhor que a ciência/arte médica propicia ao enfermo. É chavão, só que é absoluta verdade, não há doenças e sim doentes e no vis a vis da consulta o médico consegue exercer com dignidade sua profissão, conversando, examinando, ouvindo e orientando. Pedindo os exames que forem tecnicamente recomendados, não valendo tentar que o laboratório faça o exame e chegue ao diagnóstico, que deveria ser encaminhado pelo médico. Então depois de fazer magistério por 40 anos (aposentado após 30 anos, gostava tanto do trabalho no Hospital Gaffrée e Guinle da UNI-RIO, que por 10 anos ministrei aulas sem ter qualquer ganho financeiro) e 58 de consultório, se vejo a tecnologia florescer em benefício dos doentes, vejo a execução da profissão escorrer por caminhos não recomendados. Coisas de velho médico? Talvez. Só peço que não vejam na crônica propaganda pessoal, já que não é esta a intenção. Viso apenas apresentar um ponto de vista sobre nova e crescente característica, a tele Medicina. Temo vê-la ser supervalorizada e usada sem critérios técnicos recomendáveis. Que os Conselhos de Medicina fiquem atentos.



Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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