Consultas não presenciais
|
|
Ou Tele Medicina. Assunto vespeiro. Não posso afirmar que sou contra, já que
há mais de 58 anos as realizo, ainda que sem televisão, só que por telefonemas
entre paciente, que telefona e médico que atende. No meu receituário há item
que coloca meus telefones pessoais à disposição do pacientes e recomendo até
que tirem dúvidas. Reproduzo o primeiro item das recomendações do receituário:
ATENÇÃO. Leia e releia esta receita. Se persistir alguma dúvida, esclareça
pessoalmente, ou por telefone. Então em princípio não sou contra contatos
extra consultório entre o binômio médico paciente. Santos Dumont morreu
desesperado porque fizeram do mais pesado que o ar, arma de guerra e dela
jogaram até bomba atômica. E várias descobertas perderam suas finalidades
precípuas e persistem mal usadas. E ninguém pode ser contra o progresso da
aviação. Dumont só não desejava que um instrumento de transporte, inventado
para a paz, virasse arma de guerra. Nesta guerra atual, para a qual a
humanidade não estava preparada, muito menos os países emergentes, batalha do
COVID 19, as consultas não presenciais podem servir, só que não podem perdurar
depois, como solução majoritária. Podem valer em situações excepcionais. Temo
que os que se servem mais da Medicina, do que a fazem, Medicina, com
propósitos pecuniários, convoquem médicos em início, ou fim de carreira,
carreira que urgentemente precisa ser revista, precisando prover o pão de cada
dia, por consulta não presencial recebam muito menos que as consultas onde o
binômio médico paciente, com tempo suficiente, repito, com tempo suficiente,
possa fazer o melhor que a ciência/arte médica propicia ao enfermo. É chavão,
só que é absoluta verdade, não há doenças e sim doentes e no vis a vis da
consulta o médico consegue exercer com dignidade sua profissão, conversando,
examinando, ouvindo e orientando. Pedindo os exames que forem tecnicamente
recomendados, não valendo tentar que o laboratório faça o exame e chegue ao
diagnóstico, que deveria ser encaminhado pelo médico. Então depois de fazer
magistério por 40 anos (aposentado após 30 anos, gostava tanto do trabalho no
Hospital Gaffrée e Guinle da UNI-RIO, que por 10 anos ministrei aulas sem ter
qualquer ganho financeiro) e 58 de consultório, se vejo a tecnologia florescer
em benefício dos doentes, vejo a execução da profissão escorrer por caminhos
não recomendados. Coisas de velho médico? Talvez. Só peço que não vejam na
crônica propaganda pessoal, já que não é esta a intenção. Viso apenas
apresentar um ponto de vista sobre nova e crescente característica, a tele
Medicina. Temo vê-la ser supervalorizada e usada sem critérios técnicos
recomendáveis. Que os Conselhos de Medicina fiquem atentos.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação
eletrônico ou impresso sem autorização do autor.
|