Fuja de ser classificado de brega
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A primeira
dificuldade é classificar o que é brega. Talvez cafona. Que é cafona? Não é
ultrapassado, sem gosto, ou popular em excesso e sairíamos por muitas
vertentes e sem definir bem. O brega costuma ser algo espalhafatoso,
caudaloso, pouco literário, ou duvidoso no geral. E se acho fulano brega, para
mim é brega e para outro, não brega, pode não ser brega. Nos tempos do
politicamente correto temo ir a exemplos, já que ser processado por difamação
não está em minhas perspectivas. Se não der exemplos, ficarei chovendo no
molhado. E cronicar com censuras prévias ainda é mais difícil. Ficando no
politicamente correto, vou citar um gênio, que por sorte dele e nossa, fez
arte antes desta terrível censura. Só não foi gênio mundial em humorismo,
porque nasceu no Brasil e se expressou em português. Mestre Eça reclamava que
escrever na última flor do Lácio, era escrever em um túmulo. E ao humor volto
com Chico Anysio. Escrevia, representava, fazia rir, só que muitos dos seus
personagens poderiam incomodar alguém. Humor tem disto. E se passarem em mente
seus tipos, nem vou precisar exemplificar. E, sorte dele, nunca foi
classificado de brega. Vou ao risco e desde já não concordando com a
classificação, que com o tempo se desfez. Chico Buarque e com toda a razão,
desde “Pedro pedreiro” ganhou halos de poético, avançado, com valor literário,
o antônimo de brega. E quem podia ombrear-se com ele em popularidade seria
Roberto Carlos, até melhor cantor que Chico. Só que na cabeça de muitos só
pode haver um ídolo musical e se as músicas de Roberto/Erasmo descambavam para
o erótico, viraram músicas de motel e mais danado ainda ficaram quando o
compositor ficou na música e desdenhou impressões políticas. Se questiono as
ideias do Chico político, fiquei muito satisfeito com o Prêmio Camões,
poeticamente muito bem dado (perdi vários amigos com a frase, que fazer?). E
julgo a dupla Roberto/Erasmo Carlos ótima, ainda que não atinja na maioria das
letras o patamar poético do Chico. Então para mim Roberto nunca foi brega. E
chego ao que me levou a buscar o tema: Brega. Ouvia “Retalhos de cetim” de
Benito de Paula. Que samba espetacular! E aí vi nos youtubes da vida show do
artista. No piano e cantando. Será que o politicamente correto deixe dizer,
que se a música nada tinha de brega, não era um “Chão de Estrelas” – Orestes
Barbosa/Sylvio Caldas, os cetins no Carnaval do Benito estão ótimos.
Parêntese, tenho amigo que se dana ao ouvir falar em cabrocha, acha brega e de
fato não é do tempo de cabrochas. Voltando ao fio da meada, brega. O visual do
compositor, cantor, intérprete, não ajuda a música, porque é.... pouco
recomendável. “Não pensei que mentia, a cabrocha que eu tanto amei.” E,
infelizmente o Covid 19 é brega, bem como muitos que o apoiam.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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