Ainda conselhos
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Preocupam-me. Vivemos recebendo e aconselhando. Dos conselhos profissionais
nem falo, ainda que muitas vezes a profissão me obrigue a saltar sobre o seu
limite, para atingir os fins profissionais. Médicos não lidam com robôs e não
podem basear suas atitudes apenas em números, tabelas, algoritmos e novidades
técnicas, já que lidam principalmente com pessoas e suas perenes dificuldades.
Ainda assim deixemos consultórios de fora da crônica. Parto de premissa que
contraria absurdo ditado popular. Se conselho fosse bom, não se dava,
vendia-se. Pensar assim é levar o mercantilismo às raias da loucura e do
desapego humano. Deixemos compras e vendas de fora da conversa. Outro fato que
deve estar nas mentes de aconselhador e aconselhado, é que conselho não
obrigatoriamente deve ser seguido. Deve ser sopesado e seguir, ou não, depende
de outros pormenores. Logo vale não cobrar obediências a conselho. E se o
mesmo não foi seguido e por conduta contraindicada a vaquinha foi ao brejo,
segure o eu não disse e não negue conselho, se o outro solicitar. Conduta que
deve ser anotada, é se o amigo (a), parente ou não, aceita conselhos. Em caso
negativo só o dê, quando solicitado. E assim mesmo em qualquer situação
pondere fatos e não passe logo como conselho, o que de pronto vem á cabeça. A
vida do outro deve ser ponderada, já que não é a sua. E como sua ideia vai
cair no viver do aconselhado. Que não seja uma bomba, que tudo destroce, até
porque há aconselhados que seguem piamente o que ouvem e não se trata de um
Maria vai com as outras, só que tem em alta conta suas ponderações. Por
exemplo, Mário é casado com Camélia. Você não ficaria casado com Camélia nem
um dia e por vários motivos nem chegaria perto dela. Só que Mário é apaixonado
por Camélia, o casamento sofre percalços e, no seu modo de ver, Mário deveria
largar o barco Camélia, pois há risco de se afogarem os dois. Só que Mário ama
de fato e viver sem ela, não seria viver. E se Camélia não lhe agrada, não tem
defeitos irrecuperáveis. Então, aconselhar Mário a largar Camélia, não deve
ser a conduta aconselhada. Que tal aconselhar remediar. Foi apenas exemplo,
sujeito a chuvas e trovoadas. Que sua palavra, muito bem intencionada, não vá
trazer ao amigo mais aflição ainda, até porque há filhos e outros problemas.
Portanto se julgo conselhos ponderados, interessados, justos, aconselháveis,
não acho fácil ser conselheiro e até o Conselheiro Acácio de Mestre Eça, já
tenha postulado desta forma. É, posso ter dado de Conselheiro Acácio e também
com as intensões mais puras.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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