Futucando assunto meio tabu
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De quando em quando bate no bestunto ideia, que passa a ser remoída, pois
abordar tema pode ser tão perigoso quanto mexer em vespeiro. Se não
enfrentarmos desafios, para que respiramos? E respiro em várias áreas, ainda
que com a idade vá restringido locais. Assim abandonei as quadras de basquete
e mesmo as de vôlei. Não abandonei as quadras de grama do futebol, que, para
jogar, tinha que ser o dono da bola. Compareço raramente aos encontros
literários por dificuldades pessoais e alguns, que me conhecem pouco, julgam
que é esnobismo. Soberba, estou fora. Enfim restrinjo locais, só que o assunto
permeia qualquer barreira. Qual? Sexo, melhor, sexualidade. Entrando por
desvãos, como é de meus defeitos de cronista e há muitos outros, publiquei
livro e, por infelicidade, escolhi título, “Eróticos, ou quase–contos”. Tiro
no pé, que confundem erotismo com pornografia. E quando se fala em sexo,
pensam logo no Kama Sutra e seus conselhos, alguns não aconselháveis, pelas
distorções de coluna que pode provocar. Muitas vezes percebo que casais, os
mais velhos, nunca conversaram sobre sexo, ainda que tenham prole. Logo foram,
como era natural e desejável, ao sexo, só que de luzes apagadas e sem
comentários posteriores. Tabu. Imagine, falar com Pancrácia sobre meus
anseios. Idem de Pancrácia para Beltrano. E anos e anos ocorrem, o que deve
acontecer entre quatro paredes acontece e, alguns calados e frustrados,
procuram alhures suas necessidades, ou anseios. Por quê? Porque criaram tabus
e mesmo nas gerações mais modernas se percebe que para muitos casais o que
ocorre, ocorre, porque é natural, só que sem conversar sobre o gosto, ou não
gosto, quero, ou não quero, enfim buscar consenso. Fica muito encoberto com o
véu diáfano do amor. Se parece que sou contra o amor, o fato ocorre porque me
falta engenho e arte para cronicar. O amor é essencial na vida de cada um e
oxalá ocorra conjuntamente com respeito, afinidades, paixão e sexo. E este
quatro itens primordiais precisam de conversas, olhos nos olhos, sinceridade,
falar e também ouvir. Como muitas relações, com papeis passados, ou não,
poderiam evoluir melhor, se os atos de alcova, atos de alcova é dose!, fossem
esmiuçados. Conversaremos sobre o quê? Sexo, sexualidade, paixão, amor,
companheirismo, que sei eu sobre a matéria em profundidade? Abordei-a porque
julgo que se algum casal resolver seus problemas de alcova, depois de desancar
a crônica, dar-me-ei por muito satisfeito e continuarei a dar laudos em
eletrocardiogramas, que no consultório já passaram de 59 mil, fora os que
apresentei no Gaffrée e na CEF.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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