PersistênciA
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Um dos poucos ídolos que me sobraram, a atriz Fernanda Montenegro, em suas
memórias dá ênfase à persistência. Inteiramente de acordo e até pode parecer
fácil persistir, quando para trilhar o caminho do bem, vivendo entre tantos
descaminhos, há que ter tutano e boa estrutura ética e moral. Para chegar à
conclusão óbvia, em relação à atualidade, vale insistir que é complicado
persistir na intenção do bem geral. Em absoluta contra partida persistir nos
descaminhos deve ser fácil e basta olhar o jornal do dia. E percebo uma
notória tendência, até da mídia, em propagandear as vantagens de chegar ao
dinheiro fácil, ainda que muitos, que conseguiram, estejam nas cadeias e
outros lutando por derrubar quem os pretenda dificultar nos seus malfeitos, ou
corrupções. Quanta água rola pela ponte neste sentido! Por favor, não ponham
carapuças, que estou em generalidades, já que não tenho mais idade para
enfrentar os tais direitos preconceituosos, tipo censura de tudo que não
estiver na cartilha do bom menino. Continuo no genérico. Formou-se na
profissão. Seus pendores eram patrióticos, suas intenções puras, fez o
juramento da profissão, escrito ou não e então caiu na real. E havia reais, se
mudasse um pouco suas diretrizes iniciais. Mudou aqui, acedeu ali, conseguiu
comprar muito que o mercado anunciava, vendeu-se um pouco, depois muito e que
não ficasse fazendo auto julgamentos mofados e incompatíveis com a época e com
a modernidade. E que não parasse muito tempo no espelho julgador, que há em
todos nós, ou em quase todos. Como alguns podem se olhar no agora? E, sem
citar vários vultos de realce na vida pública, posso arguir, oh meu, como se
sente, sendo o que é? Não me venha com argumentos sem peso e profundidade
ética, ou moral, para explicar o que de fato faz e fez. Como olhar filhos
(as), netas (os), ou a posteridade? Que é do (a) jovem promissor (a) e cheio
de propósitos honestos? O gato comeu? E virão arrazoados, instâncias,
protelações, efeitos suspensivos, legalismos exagerados e supérfluos, tudo
indo de encontro aos desígnios protelatórios. Estou me cingindo aos da
Justiça? Nunca, o mal está espalhado, é endêmico e quanto mais alto na
pirâmide social, profissional, mais difícil é persistir na pureza. Muitos se
cobrem com o véu diáfano da hipocrisia, que muitos dizem que serve para o
vício prestar homenagem à virtude. Pobre virtude então. Vejo mesmo, em
declarações públicas, que o gajo de fato perdeu seus antigos parâmetros e como
é ladino, ataca com unhas, dentes e rasteiras, os que lhe fazem lembrar-se do
que foi e por que pensou porfiar. O poder é afrodisíaco, costumo ouvir e
concebo que lamentavelmente seja. E o leitor pode pensar, será que manteve os
seus? Tentei, tentei, se consegui totalmente, não dá para saber, já que auto
julgamentos são notoriamente complicados e complexos, disse linhas acima. E
perfeições não existem. E como olha filhos e netos? Tranquilo, nos olhos. E o
leitor, rasga a crônica e vai saber como anda a bolsa de valores? Espero que
não esteja caindo, ainda que se a bolsa sobe, perspectivas melhores podem
florescer. Estou absolutamente convicto que não basta a bolsa subir, para que
floresçam esperanças, cultura e menos fome. Fernanda Montenegro, obrigado por
persistir.
Obs. Escrevi livro com peças teatrais, foi premiado
(UBE-RJ) e seria homenagem à atriz enviar-lhe exemplar, apenas para saudar
quem persistiu e de forma brilhante. Não consegui, ainda que nada pedisse,
nada almejasse, exceto expressar meu agradecimento. E não soube de um
endereço, para que o livro lhe chegasse às mãos. Que fazer?
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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