Volver, olhe para o lado
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Quem já não ouviu este conselho, quando reclamou de algo acontecido.
Solicitação de parêntese. Dano-me quando ouço, se conselho fosse bom, não se
dava, vendia-se. Encarar conselhos desta forma é pôr a alma humana no mais
nefasto mercantilismo. Continuando no parêntese. E conselhos não devem ser
dados esperando obediência irrestrita. Dê apenas como mais um enfoque e então
o aconselhado escolhe a solução, que lhe pareça alvissareira. Volto ao olhe
para o lado. E já o conselho dado fica infrutífero. Por exemplo, quem tem um
Honda Fit, olha para quem tem um Mini-Cooper da BMW, que tem olhos para quem
tem Ferrari e assim caminha o circo do conselho mal aproveitado. Para o bem,
ou para o mal, há várias vidas em volta de cada um. O Conselheiro Acácio de
Mestre Eça assinaria a frase. Parece-me que em “Azul da cor do mar” o filosofo
Tim Maia cantava que enquanto um nasce para sofrer, ou outro ri. Então quem ri
e olha para quem sofre, deve rir mais? A banda não toca assim, ou assim não
deveria tocar. Quem ri deve se esforçar para mitigar o choro alheio, ou ao
menos minorar situações. No papel fica muito bonito esperar que os risonhos
curem os chorosos, só que não é assim que a sociedade baila sua valsa. O
discurso é um, o modo de viver, de penar, de agir e reagir, é outro, ficando
tudo no criar dificuldades, para vender facilidades, nada deixando para o é
dando que se recebe. E perante uma doença grave, muitas vezes crônica, o olhar
para o lado pode dar conforto e um roto, vendo um esfarrapado, pode encontrar
consolo, porque infelizmente o outro sofre mais. Bate um câncer, daqueles que
tem tratamento, oxalá cura e então vale ver o estoicismo do outro, que muito
sofre, só que intimoratamente peleja. Não está morto que peleja. E muitas
vezes esta visão lateral pode angariar força, para continuar na própria luta.
Otimistas vão nesta maré, enquanto que pessimista perdem olhares em pessoas
com saúde de vaca premiada, classificação de Nelson Rodrigues, em detrimento
das próprias mazelas. E como há mazelas imaginárias, a fruta do quintal do
vizinho é muito mais saborosa do que a do meu quintal. Então este olhar pula
cerca é profundamente nefasto e são pessoas, muitas vezes invejosas, que
cultuam olhares caóticos. Então vale, ou não vale, olhar para o lado? Vale, se
souber olhar, ou como disse o poeta, se a alma não for pequena. Se for... Que
pena!
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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