Será que dá conto?
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De quando em quando vem a
pergunta acima e a seguir um possível motivo para que o assunto vire conto. E
desta vez é amigo, que me conta algo, que vira tema. E o caso que me conta,
sem a intenção de provocar admiração, serve inclusive para firmar o bom
conceito que tenho dele. Resumindo. Este amigo vai sempre a Itaipava e lá sua
mulher compra roupas na mesma casa. É tão conhecida que este meu amigo, um
sujeito de muito boa vontade e, friso, sempre com honestidade de propósitos,
quando passava pela porta da tal casa de roupa feminina, ouviu. Doutor chegou
vestido de acordo com o gosto de sua esposa, por ótimo preço e com um jeitinho
que me lembrei dela. Logicamente que o vestido estava com bom preço, foi
embrulhado e serviu de presente. E de outras vezes, enquanto sua mulher
experimentava roupa, batia papo com a vendedora, ótima vendedora, educada,
atenciosa e “comme il faut”. A que vem este francês no meio da crônica?
Tentava dizer que a moça sabia se portar, nada de sedução e meu amigo, que é
médico, fica sabendo que ela tem uma destas doenças crônicas e se condoeu. Tão
nova e já carregando cruz! Suas visitas à Itaipava são constantes e sempre as
mesmas casas são visitadas. Como vai a enfermidade. O Dr. se lembrou? Estou
bem há um ano. Até aí papo normal. E vai a tal loja com a nora, tipo
nora/filha. Está atrasado, com frio e apresenta a moça da loja à nora. Feitas
as apresentações, escapole para um restaurante ali perto, onde está mais
quente. Filho e mulher esperam os dois. Ele, fugindo do frio, chega primeiro,
que a nora ficou terminando compra. Nora traz recado da moça da loja. Na
correria não disse ao Dr. que, seguindo sugestão dele, voltei a estudar. A
nora conta que a moça lhe dera a nova com muita alegria. Perguntam o que
dissera à moça para incentivá-la a voltar aos estudos. Confessa que não se
lembra e de qualquer maneira fica feliz porque induziu alguém a voltar aos
estudos e é alvissareiro este retorno. Logicamente que o fato pode permitir
interpretações dúbias, maldosas, só que quem conhece este amigo sabe que não
atua por malícia e sempre com a boa intenção de ajudar. Lembrei de fato
análogo, de dar conselho e vê-lo usado, quando passando por porteiro do
prédio, muito gentil, disse-lhe. Você tem família a criar. Pare de fumar.
Muito depois. Dr. segui seu conselho, não fumo há um ano. Valeu, disse-lhe
alegre. Julgo que deu crônica, ainda que sem arroubos temáticos, ou inovações
de estilo. Espero que outros pensem da mesma forma, sejam oportunos, escolham
solos férteis e lancem sementes. Uns pararam de fumar, outros voltaram a
estudar, enfim não se soltou palavras ao vento.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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