Ainda azeitona na empada dos outros
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Quando já maduro e esperando não ficar podre, iniciava minhas andanças na
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – RJ, era praxe ler trabalhos, não
longos. Finda leitura de crônica, recebi conselho de douto. Diga-se que hoje é
comum fazer palestras, de fato muito requeridas por palestrantes e pouco tempo
sobra para iniciantes, ou menos favorecidos literariamente, ou os que assim
são julgados, lerem seus escritos. E li algo e no meio da arenga falava em um
dos meus poetas preferidos, Chico Buarque (separo bem a poesia da política. Li
hoje e gostei muito, que ganhou o anual Prêmio Camões, que premia o melhor
escritor do ano e neste foi o Chico). E o douto confrade me avisou que com a
citação estava pondo azeitona na empada de outro. O outro no caso o Chico,
como se ele poeta precisasse de minhas desconhecidas azeitonas. Conselho
agradecido e nunca seguido. E lá vai então nova azeitona e de novo a agraciada
nem precisa. Sou assinante de O Globo e aos domingos recebo a revista Ela, que
vem junto ao jornal. Sei, devia ler A Folha, ou o Estadão. E um comentário
inicial antes da empada. Que falta faz ao O Globo cronistas feito João Ubaldo
Ribeiro. Muitos em número não afiança qualidade. O que é um bom cronista?
Julgo que não é o que faz uma ótima crônica. Em jornais, que antigamente eram
efêmeros, bom cronista é quem faz crônicas boas e constantemente. Logicamente,
por exemplo, o Agamenon, às vezes salgava demais e mesmo assim corríamos a
lê-lo. Tinha graça. Era bom cronista, idem Ubaldo, que está contando histórias
nas nuvens e fazendo sucesso, que sei eu? Lendo a Rio Total, já pensei até em
avisar a O Globo que se quiser bons cronistas, a diligente e amiga Editora
Irene Serra empresta algum e o jornal de grande tiragem teria campo enorme de
escolha no Coojornal da Rio Total e O Globo voltaria a ter ótimos cronistas.
Chego enfim, depois de vários desvios e os mesmos fariam não ser um dos
escolhidos pelo O Globo e com toda razão eu seria uma não escolha, à azeitona.
Como a Danuza Leão está cronicando bem! Como recorria ao Ubaldo, para saber
das futricas de Itaparica e Zecamunista, recorro à Danuza para ler algo
inusitado e interessante. A irmã mais velha de Nara Leão (forra para Nara, que
era designada sempre como a irmã mais nova da Danuza e sem mencionar
indisculpavelmente seus joelhos), Danuza Leão, aporta na Ela de forma
exuberante e vivida. Hoje, dia 19 de maio, veio com a Unicidade e pode até
desagradar determinada patuleia da futilidade. O bom cronista não escreve para
agradar Fulano, ou grupos de Beltranos; cronica para expor seus pontos de
vista sobre determinados assuntos e idem à vida. E o Brasil sempre primou por
cronistas de relevo, basta falar em Fernando Sabino e Rubem Braga. Qual o
melhor? Três a três e com gols soberbos. Há também o cronista esportivo e cito
João Saldanha, Armando Nogueira, que brincava em várias posições na crônica e
agora temos o Paulo Cesar Caju, irritado e com verve. Conta o Presidente Horta
do Fluminense (vencer ou vencer) que jantava com Caju em Paris, em restaurante
de luxo. Entra no salão sua atriz favorita. Tem taquicardia. Vai vê-la de
perto. Catherine Deneuve se aproxima da mesa, emoção e beija a careca do Caju.
Ele, Caju, ainda não contou esta nas crônicas. Olha eu nos desvios e peguei da
pena para exaltar Danuza Leão. Fui por desvãos e cheguei até a etérea e linda
Catherine Deneuve.
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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