A grande necessidade de ser político
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Quando era bem mais novo, perguntaram-me quais as profissões mais importantes.
Com a irreflexão da tenra idade, na lata disse, trabalhar em leprosário, ou
ser político. Por incrível que pareça, apesar dos desencalhes Brasil, continuo
pensando da mesma forma, ainda que julgue outras profissões difíceis, lixeiro,
professora de primário (homenagem à Dona Iracema Campos, minha professora
pública por cinco ótimos anos), enfermeira de hospital pobre e a lista pode
ser enorme, pois há muita gente importante labutando. Duas perguntas passarão
pela cuca do gentil leitor. Exaltar a carreira política? Será que este escriba
não tem consciência do lamentável conceito que gozam os eleitos pelo povo?
Abrindo jornais diários, ou ouvindo a CBN, sei de as quantas andamos e também
que vários políticos e de maneira justa vêm o sol nascer quadrado, friso e com
total justiça. E a fila é enorme e poucos merecem ter passaportes ainda. E
então na sua torta visão, bastaria não ter violações a pagar, isto é, ser
honesto para ser bom político. A honradez é fundamental, principalmente de
propósitos. Muito se era, querendo acertar e na vida de cada um vamos entrar
passes errados, quando a intenção, baseada até no amor, era benéfica e deu
errado. Portanto político honesto, desde que angarie cultura, pode errar, pois
é impotente às certezas futuras. Apostou no fulano e o fulano deu no que deu.
Carapuças ao vento. Conto fato antigo e de difícil comprovação. Em priscas
eras a UDN (União Democrática Nacional – o preço da liberdade é a eterna
vigilância) teve elementos de escol e um exemplo era o que conseguiu ser
Governador de Minas Gerais, Milton Campos e em tempos getulistas. Outro
companheiro de idéias e ideais, Adaucto Lúcio Cardoso, com a amizade que os
unia, após muitas lutas perdidas, confidencia-lhe. Milton muito cuidado, você
agora vai ter que lidar com bajuladores e eles são perigosos. Além das
qualidades morais Milton Campos não perdera a graça da vida, que é achar
graça. Telegrama dele para Adaucto meses depois. Prezado Adaucto: Eles estão
chegando. Pior, estou gostando. Então ser politico em meio a tanta lamaceira,
ainda permite ter verve. Tirando a lenda fora e não tenho certeza de que houve
a resposta do governador mineiro, acredito ser ainda mais difícil em época
capitalista ser político profícuo. Então deixa em entrelinhas a ideia
anticapitalista. Vejam o insucesso para o povo, para os pobres, das que não
aceitaram o capitalismo democrático e vegetam em semi-ditaduras, ou ditaduras.
Só que fica mais difícil ser político, convivendo com os “lobbies”, os
partidários, os toma lá, dá cá e tudo o mais, que deu na lava-jato e
adjacências. E se busquei exemplo no passado, vou a fato de abril de 2019 e
escrevo no dia oito deste mês. Vai Ministro à determinada comissão da Câmara
dos Deputados, explicar-lhes a necessidade urgente de modificar a Previdência
e urgentemente, ainda que seja injusta para alguns, é necessária,
absolutamente necessária ao País. Há Oposição, que precisa tumultuar e se lixa
para as necessidades do povo. E o Ministro Paulo Guedes mostra que tem cultura
econômica, acredito piamente que se envolva com a melhor das intenções, só
que, neste episódio ao menos, mostra que não está gabaritado como ser
político. Deputado da Oposição, que precisa tumultuar, chama-lhe de
Tchutchuca. E recebe do Ministro resposta absolutamente desastrada. Tchutchuca
é a mãe. Incrível alguns correligionários bateram palmas à resposta. Se o
Ministro fosse um político e com a formação própria ao cargo, teria tido a
oportunidade de chamar o verberante deputado à ordem e a atenção do País para
a forma pela qual se conduzia a Oposição. Teria lavrado um tento, se seguisse
o caminho político aconselhável. Já tivemos nos últimos quarenta anos
presidente que tinha cultura, honestidade e teria deixado campos mais férteis,
não fora a soberba. Foi tremenda pena para o Brasil esta faceta pessoal. Enfim
é difícil encontrar indivíduo com acervo moral e intelectual para ser político
produtivo. Cada político tem que pensar que sua missão é incomensuravelmente
maior que ele. É difícil encontrar indivíduo com acervo moral e intelectual
para ser político produtivo. Cada político tem que pensar que sua missão é
incomensuravelmente maior que ele. Sendo assim, para cada patriota ter
políticos de grandes e sadios propósitos a votar, se torna difícil.
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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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