Questão de ângulo e adjacências
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Era da família do grupo de mais sensibilidade. Encantou-se pela sombra de uma
jarra às nove horas. De fato a jarra era torneada e sua sombra naquele horário
ficou linda e inspiradora. Fez poesia e quando seu amor acordou, recebeu a
poesia e disse, como dizia para tudo, adooorei. O poeta quis mostrar a sombra
e já eram onze horas. Não mais sombra bonita, o que nada espantou a musa, que
preferia saber da última fofoca do que ver sombras. Diga-se que o poeta era da
banda abastada de família. Deixemos poeta e musa em um caramanchão. E eis que
naquela família, preste a receber novo componente e este inserção de
componente ficou por um triz. E o familiar era de méritos, intelectuais e
emocionais. E o acontecido em festa ficou patente para gregos e troianos.
Bandos formados, em síntese acaba e não acaba. E conselhos de todos os lados,
em maioria muito bem intencionados. Logicamente nesta família havia doutos que
julgavam que seus conselhos deviam ser encarados como diretrizes a cumprir. Se
ele saíra da sua posição para imiscuir-se em amores alheios, que ouvissem e
seguissem sua sabedoria. E como ocorria naquela família se A foi a favor, B
era contra e se travou ácida discussão entre os dois luminares, duas bestas na
matéria. Um matemático da família juntou dados, fez pormenorizado algoritmo e
a bem intencionada conclusão foi para o não. O poeta fez poesia, que nada
dizia ainda que bem sensível. Quem tinha a resolver, recebeu os mais variados
conselhos, em maioria pensando na vida do parente e amigo. Mãe favorável ao
rompimento, tia contra o rompimento e na corda bamba os que tinham a ver,
foram bombardeados, inclusive do lado da moça também. Um tio solteirão e
desmiolado avisou. Não dou conselhos. Se fossem válidos seriam vendidos e não
dados. Quando foi do conselho da fábrica da família, quase pôs a perder toda a
pujança econômica face às idéias descabidas. Esta história de vender
conselhos, cheira a mercantilismo despudorado. E não havia ninguém de bom
senso naquela família? A madrinha do infante. _ Meu filho, quer conversar
comigo? _ Quero, a Senhora sempre me aconselhou bem e com sensibilidade. Estão
fazendo uma guerra inútil e devastadora. Nem me deixam pensar direito. _ Meu
querido só tenho um conselho a dar. Não vá deixar de ver prós e contras, só
que no fim pergunte ao seu coração que caminho lhe aconselha. E depois vão
sozinhos para bem longe, conversem, conversem, sem “part pris”, ajeitem,
perdoe, se for para perdoar e siga sozinho, ou acompanhado e com a graça de
Deus, feliz. Um último conselho. Ao chegar à sua conclusão, nunca pense no que
vão dizer. E assim foi feito.
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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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