DETURPAÇÕES
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Quase tudo que um homem inventa, outro consegue deturpar. Se
acham que a conclusão é acaciana, cito-a porque a julgo nefasta e o
invento não nasceu para tal finalidade. Antes de falar em dedinhos
cibernéticos pressurosos, vamos citar “en passant”, algumas invenções
que foram deturpadas. Santos Dumont nunca imaginou que “seus” aviões
carregassem bombas e até atômicas; nem Ford pensou que tanques de
guerra viessem dos automóveis. Certos sistemas políticos, no papel,
são ótimos, só que quando foram implantados, políticos e não políticos
conseguiram impregnar e destruir ideais puros com tremendas vantagens
pessoais, nepotismos, demagogias, malfeitos, corrupções,
apadrinhamentos espúrios etc e a vaquinha modo de governo vai ao
brejo. Vale lembrar o conceito de Churchill sobre Democracia. Deixei
apenas exemplos gritantes e quase tudo pode ser piorado por usos
indevidos. E chego ao celular, foco de nosso monólogo, que sempre
pretende levar a diálogos, mesmo se não for com o cronista. Vai ser
contra o celular? Vou e não vou. Por que a Democracia parece ser um
meio de governo menos nefasto? Porque há órgãos de controle, externos
aos governos, novas votações e até impeachments. Enfim há o Judiciário
e também há e, às vezes não há, o Legislativo. Basta abrir livro da
História do Brasil recente e ver que nem sempre os poderes cumprem
finalidades básicas. E celulares, telefones móveis, são espetaculares
e vale ver como prestam serviços. Antigos viventes puderam aquilatar o
avanço que ocorreu com os mesmos, apesar de celulares chamarem ladrões
de toda a espécie. Hoje celulares são minicomputadores e seria chover
no molhado enaltecer funções, ainda que por meio deles muito malfeito
também ocorre. Volto aos celulares e em salas de aula. Sou professor
aposentado e, quando na ativa, parece que dava meu recado de forma
aproveitável, ainda que sem ser o rei da cocada preta. Colegas, ainda
trabalhando, rindo, avisam. Queria ver você dar aula agora. É, eu
gostava de dar aula e, mesmo aposentado, durante doze anos, trabalhei
sem qualquer vantagem pecuniária, dando aulas de Cardiologia e
Eletrocardiografia na Clínica Médica C, da Escola de Medicina e
Cirurgia da UNI-RIO, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e
posso assegurar que com salas cheias. E por que me fazem a afirmação
agora? Dizem os colegas que alunos, mesmo universitários, não desligam
celulares e o tumulto é geral. Como vou ficar sem me comunicar com os
meus, se desligo o celular? Tola pergunta. A conversa de dedinhos
espertos tumultua até aulas do primário, contam-me clientes
professoras e algumas estão jogando toalhas na lona, porque o respeito
se foi e passar conhecimentos fica sendo utopia. Esta é mais uma
engenhoca que precisa ter seu uso regrado e em qualquer lugar. A
palavra aos atuais educadores e principalmente pais responsáveis.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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