Sempre, infelizmente, houve “fakes”
|
|
Ainda que não se chamassem fakes news, ocorriam e eram chamadas mesmo
de mentiras. E vinham de ventos opostos, da direita, da esquerda e
sempre visando denegrir quem pensasse diferente e, principalmente, se
tivesse mais possibilidades eleitorais. Conto caso ocorrido na
faculdade e com amigo, dito de direita. E, convivendo com ele, nem sei
se era de direita, ou esquerda, já que se mostrava bastante liberto e
esclarecido para se amarrar em corrente ideológica. Nunca aceitou em
política uma vez Flamengo, sempre Flamengo. E, como não era de
esquerda, colocaram-no na direita. E ele continuou liberto e agindo de
acordo com sua veneta, procurando não ter antolhos. Engraçado é que
foi secretário do diretório acadêmico durante anos e não repetia
períodos, pois, era estudioso. Pasmem, tinha até um arremedo de
editora com dois colegas de esquerda. Estes dois muito discutiam com
ele, só que muitas vezes o apoiaram no diretório e a chapa dele vencia
sempre. E o amigo se forma, sendo casado, já tendo filha e um varão
por vir. Até o último ano de Escola de Medicina e Cirurgia, hoje da
UNI-RIO, agiu no Diretório. Por votação foi o orador da turma. Contava
sobre esta oratória que, quando abriram as cortinas do Teatro
Municipal e viu aquele povão todo e em vários andares, teve vontade de
fugir e pensou, para que me meti nisto. Vida que segue, formado,
empreguinho dos tempos de estudante na CEF, fusquinha caindo pelas
tabelas e estacionava nos terrenos da escola, que deixava ex-alunos
pouparem os trocados de estacionamentos. E eis que encontra um dos
líderes da esquerda, que ainda não se formara. Não era nenhum dos
sócios na Editora, empresa que após dois livros publicados, dele e de
um dos sócios, deixou de existir. E este ex-colega, encontrado ao
estacionar, que era também de boa cepa, pergunta. Como é, o mesmo
fusquinha velho, o terninho batido, eles não lhe arranjaram nada?
Conta o amigo que teve vontade de sair no palavrão, só que escolado
pelas lides no diretório, onde diz que aprendeu muito, convidou o
perguntador para um café no boteco da esquina. Quem são eles? Você
sabe. Palavra que não sei, posto que nunca fiz nada por qualquer eles.
Ora, você era subvencionado pela embaixada. Vontade de novo de ir ao
palavrão, onde constaria a progenitora do outro. Ao invés disto
perguntou. Você se lembra de que andou preso e eu pelo Diretório
procurei tirá-lo da cadeia, cadeia indevida? Lembro, estranhei sua
interferência e até lhe agradeci. Sabe por que me mexi junto à
Diretoria da Escola? E continuou. Porque tenho admiração por você,
julgo-o idealista ainda que não concorde com suas ideias. Seu pai fez
a reforma agrária na própria fazenda, que, sei, não deu certo, por
fatos que não vêm ao caso. Eu admiro vocês pelo idealismo e você,
vocês, tacam pecha de venal, a quem lhes faz oposição. Você nunca foi
à embaixada? Não, trabalhando e estudando e ainda brincando no
diretório, nunca fui nem a biblioteca da embaixada, que você uma vez
me disse que frequentava e era ótima. Enfim não tirei nenhum proveito
financeiro das minhas ideias e ações. Acabaram amigos e enquanto o
outro esteve no Rio, os encontros foram prazerosos, um sempre numa boa
gozando o outro face às ideias políticas. A fake é que meu amigo era
comprado pela embaixada. E indo à História pátria, o Brigadeiro
Eduardo Gomes, candidato ante Getúlio Vargas, ia bem de possíveis
votos até que apareceu “fake” e não havia naquela época meio de contra
atacar mentira, que pregava que Eduardo Gomes chamava os trabalhadores
depreciativamente de marmiteiros. E o Brigadeiro perdeu a eleição e
historiadores afirmam que a “fake” teve influência naquela votação. E
só cita fases contra os da direita? Por acaso, pois acima afirmei que
o jogo ruim é de lá para cá e de cá para lá. Então as mentiras são
velhas, ainda que com rótulo novo. E os dossiês falsos, que tentavam
mudar votos! Eram caríssimos e alguns feito com deletério esmero.
Lembram-se do que foi cristianizar um político? Explicação, o político
Cristiano Machado foi lançado e depois traído pelo próprio partido e
virou verbo. E como se cristianiza candidatos em golpes não
recomendáveis até hoje! Tive livro de francês, que começava com frase,
que traduzo, sem querer me arriscar no original. “Mentiroso, nenhuma
piedade para você.” Concordo. E como se mente em política, mais até
que na vida fora dela. Infelizmente.
–––––––––––––––––––––––––––––––
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.
|