Dedo podre
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Quem já não ouviu alguém reclamar
que determinada pessoa tem dedo podre, apontando especialmente
mulheres e que têm preferência por escolher parceiros cabíveis e
aceitáveis para elas e que só lhes trazem depois dissabores. O
comentário tem até nuances de machismo, porque independente do sexo
muito se escolhe e com dedo podre. Tenho até a impressão que a maioria
das belas estrelas, daqui e de outros países e com holofotes
midiáticos em cima, não escolhe bem seus amores, vide em maioria suas
biografias. Idem astros dos palcos, ou das telinhas, ou os que correm
pelas quatro linhas dos campos verdes, que os quero verdes. E na
maioria das vidas se pode apontar escolhas de dedos podres. Erradas e
em vários campos e não só nas escolhas de parceiros, ou parceiras,
também vejo furos nas escolhas de amizades. Há ditado popular
asseverando que, diga-me com quem andas e te direi que és. Meio
dogmático demais. Ainda que haja corruptela, que tem o diga-me e
completa e te direi quem te acompanha. E de fato companhias podem
estragar julgamentos, ainda que nem sempre corretos. E fugirei de
apontar dedos podres na política. Saltemos de banda da política, que o
mar não está para peixe. Então a vida mostra perene necessidade de
escolher, apontar, caminhos e há caminhos em que entram dois e em
breve voltam a caminhar solitários, com as tristes separações e põe
tristezas nelas, até tenebrosas, quando deixam filhos pelo caminho,
esquecendo que crianças não sabem dividir lealdades e podem sofrer
muito com a separação dos pais. Então para chegarem ao casamento, com
ou sem certidões, vejam se estão apontando certo, se há respeito entre
os pares, se possível afinidades e o indispensável amor. Neste
tumultuado início de XXI amor é muito confundido com paixão/interesse.
Deixemos os casais pensando se devem, ou não, ir em frente de mãos
dadas, ou caminhando sozinhos. E vamos ao dedo podre em literatura. Em
cada livraria, sebo, ou página na internet, como há livros a apontar.
E como dedos podres e até por interesses materiais nos apontam livros
ruins, idem filmes, idem o resto. Fulano é meu amigo, então seu livro,
que nem vou ler, é ótimo e gasto até tinta de impressão para
elogiá-lo. Vale dizer que em igrejinhas e como é difícil fugir delas e
as há até muito cordiais, os dedos podres devem, oh tristeza, apontar
obras de confrades e confreiras que nem sempre mereceriam o destaque.
Agora quando alguém, que se designa como crítico literário e assina
como tal, a igrejinha não pode ser tolerada. É como se o médico, que é
amigo do dono do laboratório de produtos farmacêuticos, prescrevesse o
medicamento da firma do amigo, quando não é aquela droga a mais
indicada. Vejo muito isto nos campos esportivos. Ex-jogador (a) ganha
latinha para comentar seu esporte. De início o corporativismo fica
sendo seu lema e tome elogio a pernas de paus, ou mãos furadas.
Depois, com o tempo, vai perdendo afinidades esportivas e, muitas
vezes, pode comentar e criticar ex-colegas com distanciamento e
imparcialidade. Ao aceitar ser cronista, crítico, sua função agora é
mostrar sua verdade, a verdade que viu e sem dedos podres. Dedo podre
raramente aponta com sucesso, ainda que possam ocorrer exceções,
principalmente quando há o maior sentimento de permeio, o amor. Ela
parecia que apontou com dedo podre e o indigitado pelos séculos e
séculos a levou ao paraíso. O amor contraria até dedos podres, creiam.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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