Amizade e literatura
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(“Se non è vero ... è ben trovato.”)
Uma das principais capacidades do importante sentimento amizade é
absorver risos, ou lágrimas dos amigos e até decepções. No caso
presente absorvi decepção do amigo e porque não quero deixá-lo em saia
justa, não vou dar qualquer nome. Até porque digito esta história sem
a anuência dele e na certeza que nossa amizade, que é de longa data,
quando nenhum de nós tinha barriga, orelhas crescidas e pouco cabelo,
permite minha intromissão. Então mesmo idosos nossa longa amizade
admite conversar muito, ou ficarmos calados, sem qualquer
constrangimento e mesmo meter colher torta em acontecimento literário
do outro pode. Somos até também compadres e bilateralmente.
Apresentações feitas vale dizer que temos “hobby”, desculpe o
anglicanismo, só que não vejo na última flor do Lácio sinônimo
perfeito e voltemos ao “hobby”, semelhante. E competimos sem competir
nos concursos literários. Explico, vamos ao mesmo concurso literário e
se apenas um vence não há problema, ou choradeira. Um dado que vale
logo destacar, sendo fundamental, é que o amigo não é chorão. Ganha e
perde até com mais fair-play que eu. Então nestes anos todos nunca o
vi reclamar de resultado de concurso. Às vezes reclamo e ele não.
Então não é chorão. Frequentamos a mesma entidade literária, das mais
conceituadas do País, muito bem dirigida por anos e anos. Faz concurso
anual. Livros inéditos em um ano, livros publicados em outro. E em
livros inéditos tem tradição, que julgo salutar. A diretora de
concurso recebe os livros inéditos sob pseudônimo, leva-os a
determinado corpo docente de faculdade importante e no setor voltado à
Literatura. Então os livros são julgados pelo mérito e sem que os
júris saibam quem é o autor. Voltam as obras ao sodalício, bonito
termo e então vai se ver que autor usou aquele pseudônimo, enviado em
carta até então lacrada. Oxalá todas as academias literárias tivessem
estes cuidados absolutamente honestos, morais e éticos. Vale também
acrescentar que o contado a seguir não deixa que o amigo, ou eu, tenha
qualquer ideia de desonestidade, ou igrejinha. Ocorreram os fatos a
seguir por acasos desagradáveis. Aos fatos. Em ano anterior em
determinada categoria pela vez primeira e em todos os tempos um autor,
no caso o amigo, tirou primeiro e segundo lugares em determinada
categoria, logicamente com obras e pseudônimos diferentes. Em esforço
financeiro pega as obras premiadas e as funde em um único livro, que
então sob seu verdadeiro nome concorre no ano seguinte ao concurso
internacional. Tudo de acordo com o edital do concurso. O amigo tira
um segundo lugar com livro de outra categoria e na que esperava
prêmio, por ter agora obra que englobava duas obras premiadas no ano
anterior, quando inéditas e pela mesma academia, nada aufere. Há um
problema pregresso no envio da obra, que lhe volta às mãos, porque no
endereço determinado no momento da entrega pelos Correios, não havia
um porteiro a receber. Acertado novo envio, o amigo manda o livro e
com fundadas esperanças de novo prêmio, já que o livro mostrava duas
obras premiadas, em primeiro e segundo lugares, pela entidade e no ano
anterior. Vem o resultado e o livro não está entre os premiados e eram
três lugares, primeiro, segundo e terceiro e mais menções honrosas.
Será que meu livro concorreu? Foi feita pergunta à direção e a
direção, sempre ativa e atenciosa, indaga de quem coordenou o
concurso, se o livro de fulano concorreu. Vem resposta e aviso que o
referido livro concorreu e aduzia: “Mas a Comissão foi bastante
criteriosa e escolheu os que superavam qualquer expectativa de
qualidade”. Quem escreveu é pessoa acima de qualquer suspeita e de
alto nível literário, intelectual e moral. E não fazia parte dos três
que julgaram aquela categoria. Assim, deve ter conversado com um dos
três julgadores, para dar o parecer acima. Conclusão. Dois livros
inéditos, que tiraram no ano anterior primeiro e segundo lugares
naquela categoria, quando passaram para livro publicado na mesma
categoria, recebeu o julgamento de sem qualidade. Meu amigo, está
contado o motivo de sua decepção. Mesmo que não fosse seu amigo,
estaria solidário literariamente com sua decepção. Vida literária que
segue. ”
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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