Dois mil e dezoito
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Foi o ano em que fizemos bodas de
diamante. Fiquei muito feliz e comemoramos, ela, eu, filhos e netos e
me danei com a denominação das bodas. Tanto perjúrio já passou pelo
ouro e agora até por diamantes. As valiosas pedras serviram até para
guardar os frutos de corrupções. Só que se 2018 ano foi importante
para nós, que se dirá para o País? Eta Brasil do tudo e nada! Tudo de
ruim e tudo de bom, ou nada de bom e nada de ruim não existem. E na
balança dos tempos que sobra para brasileiras e brasileiros em 2018?
Um exemplo negativo nesta segunda quinzena de junho, em plena época
das ex-festas juninas, pois, alguns dão mais valor ao halloween, faz
indagar. cadê as ruas pintadas e os jovens pintando e bordando em
homenagem à Copa do Mundo, nas noites/madrugadas da vida carioca?
Cadê? Os jovens estão em suas residências, cibernéticos, mais
preocupados com a violência e muitos pensando em bater asas, que
decorar ruas e vibrar com a copa. Jovens querendo emigrar, que
tristeza, quando são os que podiam auxiliar a soerguer o País. No
impeachment da Presidente, vi deputado baiano dizer com belo sotaque,
que tudo ocorre por causa da sobérba (copy desk, por favor, deixe o
sobérba com acento, para dar vida ao dito) de todos. Então algo de
útil foi dito na câmara, só que é muito pouco, já que de muitos
malfeitos as câmaras estão plenas e alguns representantes do povo são
despudorados em suas falas eleitoreiras. Então neste 2018 nada
aconteceu de amável? Sonhamos e o Brasil cresce às bênçãos da Estrela
Dalva. Também certas justiças, que não eram alcançáveis, foram. Muita
gente e com total merecimento está vendo o sol nascer quadrado e de há
muito não se tinha esta esperança. A inflação diminuiu, aleluia, os
empreendimentos deixaram de cair e, se não atrapalharem muito, vão
aumentar o número de empregos, a miséria vai diminuir e muitas medidas
eleitoreiras vão parar no brejo da sapiência popular. Então se pode
confiar na sabedoria popular, já que vem eleição aí? Não, não há esta
sabedoria e é fácil engambelar a patuleia. É arauto da derrocada? Não
e vou recorrer a sábio e luso escritor, que apregoava sobre Portugal.
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão
dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há
princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja
escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre
os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns
agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na
imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços
públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado
na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza
deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a
parte: o país está perdido!”. O texto é de 1871, há 147 anos, escrito
por Eça de Queiroz, no primeiro número de “As Farpas” e se adapta
incrivelmente à nossa atualidade. Portugal, “jardim da Europa à beira
mar plantado”, está aí firme, forte e muitos patrícios para lá
emigram. Esperanças, pois, então para nós. E por ato da misericórdia
divina o Brasil começou a sobreviver em 2018. Como? A História
contará. Enquanto “a vitória demora, mas vem”, oremos com patriótico
fervor.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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