Propaganda e no fim uma de livro
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Hábitos mudam e como! Quando a música “Maria” de Ari Barroso foi
usada em anúncio de Cilion, houve reclamação. Fato ocorrido de há
muito e nem sei se houve permissão, ou vantagens financeiras, só me
lembro das reclamações. Era “Maria o teu nome principia na palma da
minha mão e cabe bem direitinho dentro do meu coração. E no jingle
“Vejo logo maravilha que tu usas Cilion, Maria”, música e depois
locutor completava, para a beleza dos cílios, Cilion. Nem sei se
existe ainda Cilion, que foi marco na propaganda. Outro anúncio e
muito manjado foi do Rhum Creosotado. E começou nos bondes. Ah os
bondes, como eram poéticos! Quem se lembra do taioba? E em versos do
poeta Bastos Tigre nos ventilados bondes: “Veja ilustre passageiro/ o
belo tipo faceiro/ que o Senhor tem ao seu lado/ e, no entanto,
acredite/ quase morreu de bronquite/ Salvou-o o Rhum Creosotado.” E se
estranhava um poeta fazer versos para comercial. E como a propaganda
cresceu e de todas as formas. E fiquei pasmo quando em análise de
especialistas do ramo, foram mostrados anúncios, que aos olhos leigos
eram sucessos e na apreciação dos “experts” (por que não digitou
espertos? Porque não é a mesma coisa.), como veículo de venda, foram
consideradas de baixo valor, pois não foi dada a ênfase necessária ao
produto, que pagou o anúncio e que não estava interessado na
literatura, ou na beleza ou inventividade da concepção do mesmo.
Patrocinador tinha um desígnio único, chamar a atenção para o produto
e aumentar, em função do apregoado, sua venda. E como apareceram
propagandistas para veicular produtos, havendo até concursos
posteriores e em várias partes do mundo, onde agências de propaganda
são premiadas e seus gênios exaltados. Parêntese para contar fora
pessoal e pensando que estava marcando gol. Dou-me muito bem com os
representantes de laboratórios farmacêuticos que vão ao consultório,
levando amostras e principalmente trabalhos científicos concernentes
aos seus produtos. Já comemorei o trabalho destes jovens de ambos os
sexos em crônica, publicada há muito tempo no Jornal da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Houve repercussão positiva do artigo no
meio e até Presidente de importante laboratório agradeceu, ele que
fora propagandista. E qual foi minha rata? Estes profissionais, que
muito admiro, detestam ser chamados de propagandistas. São
representantes de laboratórios e julgam um “caput diminutio” ganharem
o apelido de propagandistas. Por escrito deslindei o equívoco, mudei
de designação e continuamos voando em céu de brigadeiro, pois,
enfatizo, louvo muito o trabalho que fazem e os serviços que prestam à
saúde de todos. Falando sobre propaganda, estamos em setembro de 2018,
em outubro eleições para vários cargos e não vai falar na propaganda
eleitoral? Nos marqueteiros? Belas campanhas para pífios candidatos,
na maioria das vezes. Elegem-se candidatos, marqueteiros, que
inventaram engodos, em férias na Provence, ou trabalhando em terras
bolivarianas e nós aqui sofrendo por culpa destes irresponsáveis, que
nos induziram a votar mal. Para terminar esta e com dado que colhi em
ótimo livro, “Navegação de Cabotagem” de Jorge Amado. Na página 10, o
livro saiu, primeira edição, no ano da graça de 1992, Amado escrevia,
enquanto Zélia Gattai, sua mulher, cantava o jingle de Lula, criado,
diz o notável escritor, por Chico Buarque. Vale ver qual era o
julgamento de Jorge Amado sobre o então candidato à Presidência. Se
conseguirem o livro, ótimo livro, procurem logo a referida página e
então esta crônica teve um bom fim. E propagandeou Navegação de
Cabotagem, a verdade sem malandragem.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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