Em mares encapelados ou “sutor, ne ultra crepidam”
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E sabendo que enfrento de caíque frágil de cidadão comum assunto
em que só doutos deveriam meter as conspícuas colheres. Ondas
desagradáveis então no mar jurídico e confesso ter chorado as lágrimas
de esguicho do pranteado Nelson Rodrigues, quando um presidente da
república sofreu o impeachment e não teve seus direitos políticos
cassados. Se manteve seus direitos, não devia ter sido tirado da
função e vice-versa. São águas bem passadas e outras estão rolando na
fonte jurídica e como! Salvo exceções a magistratura muito faz pelo
País. Cabe o termo magistratura? Avisei em linhas iniciais que não sou
douto e navego em mares turbulentos e no caíque cidadão comum. E se os
encarregados da Justiça em quase totalidade fazem muito pelo País e
com o destemor de enfrentar até interesses escusos dos que clamam
contra decisões judiciais de peso, há que louvar, ou reclamar. Porque
só alguns juízes vão de encontro aos interesses do cidadão comum? E
bate contra estes campeões do verdadeiro direito (há direito falso? –
acho que há, pois, lamentavelmente vejo juízes da magna corte até pela
imprensa se digladiando). Rábulas e não rábulas encontram desvãos e
caminhos de fuga, apoiados muitas vezes por vozes até do bem. Bem e
mal, que pragmatismo! Vou à onda enorme, semelhante às do Havaí. As
leis devem preservar o legal e o moral. E se ouve isto, é legal, mas
não é moral. E muitos morais embarcam na canoa furada e apelam. Vou ao
núcleo de um dos bochichos, o problema auxílio moradia de juízes, que
sem fugir dos trâmites legais, mesmo tendo residências nos locais de
trabalho, recebem o tal auxílio e que supera até quatro salários
mínimos. O recebimento é legal, Alguém duvida? Não. Se é moral, vozes
a quem a Pátria muito deve, se levantaram para defender o auxílio, que
até recebem e que podem deixar dúvidas sobre a moralidade. Se acham
que um pobre aprendiz de serra ossos (classificação de Dickens para
médicos) e de outra área vai resolver o imbróglio, estão enganados.
Onde está o problema? Concebo de quem fez a lei. É difícil fazer leis
legais, éticas e morais. Como seria moralizar esta lei no nascedouro?
Só tem direito o magistrado que não tiver casa própria, melhor por
residência própria, na cidade onde atua. Vamos fechar desvãos, ou em
cidade a menos de cinquenta quilômetros do local de trabalho. E se o
cônjuge tiver a moradia? A lei incluiria o conjugue e dependentes
menores de idade. E se forem casados com separação total de bens, o
cônjuge magistrado pode receber o auxílio, se a casa, residência,
estiver em nome do outro cônjuge? Nas alíneas permissões e não
permissões seriam pormenorizadamente indicadas e por quem sabe fazer
leis e não por quem fez a salada linhas acima. Deixo as fórmulas para
quem sabe do assunto. Se a lei do tal auxílio tivesse sido feita de
forma hábil, o tumultuador problema, em época em que juízes precisam
ser cavalheiros sem medos, ou máculas, para limparem o Brasil, como
vêm vários e valorosos juízes fazendo, estas manchas não teriam
ocorrido. Oh cronista simplório, tem certeza que feito jacus, muitos
doutos não achariam formas de continuar sendo legais e deixando
pequenas dúvidas morais nos seus procedimentos legais? Ao contrário,
tenho convicção que por melhor que seja formulada uma norma, haverá
pontos em que a legalidade seja aceita, ficando o julgamento da
moralidade para o entendimento de cada um, sendo que este deve ser
atingido sem canganchas, ou sofismas. Enfim, acho que não resolvi nada
e com a desculpa prévia de que de caíque fui a mares, onde só navios
de alto porte jurídico deveriam navegar. E por que fui? Porque na
democracia todos os cidadãos devem lutar pela Constituição do Brasil e
reclamar se acham que a Constituição foi maculada, ou pairam questões
de peso sobre ombros honestos e patrióticos, de Curitiba, Rio Grande
do Sul, Brasília, Rio de Janeiro, enfim do Oiapoque ao Chuí, sem serem
perfeitos, atuam com denodo, apesar de tudo. E continuem assim, a
Pátria pede e a lava-jato é brilhante exemplo para os não bolivarianos
e afins.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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