CASA E LAR
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Casa, no sentido de construção,
é mais lar que apartamento. Assim é, se lhe parece, de Luigi
Pirandello, trocando o lhe pelo me. Os lares têm seu principal
sustentáculo no amor, já deve ter dito o Conselheiro Acácio do Eça de
Queiroz. Que casa não tem uma faca com a ponta estragada, pois foi
feita de chave de fenda? Procura-se uma chave de fenda comum e se
encontra uma Philips, que não serve àquele parafuso. Coisas de lares!
Enquanto cada apartamento não se responsabilizar pela água que
consome, a taxa de água do condomínio será maior, que seria a soma das
águas individuais. Por que em maioria os porteiros torcem pelo
Botafogo, ou são nordestinos? E sem preconceito contra qualquer dos
dois. Cuido para não cair nos politicamente incorretos. Pena quando
velhos deixam o lar e vão para asilos, mesmo quando estes têm nomes
bonitos. Um lar completo deve ter velhos, adultos e crianças, fato que
cada vez com o progresso fica mais difícil. Crianças costumam atrair
mais simpatias que idosos. Em geral velhos são mais chatos que velhas,
só que quando velha dá de ser chata... Procuremos todos dourar a
pílula da velhice. Em casa que se ensine ao menos respeito aos
professores e idosos. O que ouço de dedicadas mestres de agressões em
salas de aula, é de chorar. Este é o principal problema dos Brasil.
Daí vem o resto. Celulares ligados em salas de aula e nunca
desligados, como pode? Lares devem ter ao menos dois mantenedores e
todos ajudando e de todas as formas. Necessitam saber que é benesse
das maiores ter um lar. Poltronas confortáveis são recomendáveis. Idem
livros, música e chinelos aconchegantes para velhos. Cadeiras de
balanço não devem sair de moda e que o uso de computadores seja
regrado e para todos os conviventes. E nada de quartos invioláveis,
como terras demarcadas para índios. Ainda que se deva bater e pedir
licença, se a porta está fechada. Refeições em conjunto e nunca em pé.
Almoço e jantar não são locais para discutirem os problemas azedos da
família. Tarefas domésticas sempre divididas e com bom senso. Que
ninguém se entoque em um canto sempre. Há que ter, ao menos
quimericamente, um canto para se entocar em certos momentos e
situações. Que velhos tenham paciência com jovens e vice-versa. Se há
afeição, fica mais fácil. A felicidade é trabalhosa em todas as
idades. Falou de novo o Conselheiro Acácio! Preconceitos atrapalham
convivências e como é difícil não tê-los. Gostar de esportes aproximam
gerações. Lares devem ter várias televisões em cômodos diferentes, se
há bala para tal. Ah, quem consegue tirar a televisão da sala! De
preferência não assistir jornais televisivos durante as refeições.
Notícia ruim atrapalha digestão, idem discussões exacerbadas.
Refrigerantes e alcoólicos devem ser raridades. Bolo de milho afina
bem com café e lar. E que se comemorem muitas datas. Que lares tenham
mais de um banheiro e se evite demoras excessivas nos mesmos. Natal
deve ser época especial e com eflúvios futuros e pretéritos. Também
dia das mães, vá lá, dia dos pais e sem esquecer aniversários.
Presentear de acordo com o gosto do aniversariante. Nem é obrigatório
cantar parabéns. Olhos nos olhos e falas não devem ser substituídos
por letras dedilhadas, ainda que as possa haver. Enfim, lar doce lar.
Nem quero escrever sobre os verdadeiros sem teto e na gerações de rua.
É muita tristeza.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(1º de fevereiro 2018)
CooJornal nº 1.063
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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