Natal e sua Árvore em 2017
|
|
Entrávamos em dezembro de 2017 e Vovó Leca começava a armar a Árvore
de Natal, pensar na Ceia e preparar o apartamento, que fica em frente
à casa de muitos Natais passados. Sentado e impossibilitado de ir ao
computador, que pifou, para digitar a crônica sobre esta delicada e
trabalhosa operação, resolvi escrever a crônica a lápis. Via agora e
já conhecia a faina de outros dezembros. A arte de armar a Árvore
começa pelo desarmar, já que vários e antigos enfeites têm histórias e
antes filhos e agora netos procuram os enfeites antigos e, dando
voltas em torno da Árvore, apontam os novos e, em meio a luzes
piscando, há encantamento em todos os olhos. Tomara que um dos três se
anime, melhor ainda os três, se animem e tragam os nossos bisnetos
para participarem das mesma tradições. Como precisamos delas e cada
vez mais, já que elas estão sendo desprezadas. Os netos, médica,
advogado e engenheiro, cito em ordem cronológica, que sou avisado,
voltam no tempo e apontam enfeites. As árvores são trocadas, que ficam
velhas, desgalhadas, não os enfeites. Raramente um é barrado e haja
sustentação para alguns, já precisando de muito apoio. Aquele ali é do
meu tempo de menina, diz a filha, aquele foi mamãe que trouxe e é
novo, aquele tem um verso do Vovô, eu gosto mais daquele anjinho,
coitadinho, apesar de estar descorado! Cadê aquele que é tricolor?
Este Vovó trouxe de Londres, há muitos anos. E enquanto a avó,
pacientemente arruma enfeites, procura o melhor ângulo para aquele
Papai Noel e para a nova guirlanda, vou escrevendo e, sem perceber, me
emociono. Não é esta árvore um simples ornamento em uma sala, não é
apenas um objeto decorativo. É alma de uma família, é a
sabedoria/ingenuidade da Avó, passada para filhos e netos e
simbolizada pela Árvore. É pictoricamente a mais rica ou bonita que já
vi? Não e nem é muito grande. Não ganharia prêmio em concurso, sei,
tenho até a certeza, pois lamentavelmente não conseguimos ainda passar
sentimento para os objetos, pelo menos aos olhos dos não iniciados na
contemplação anual destes galhos especiais. É esta a crônica que fui
escrevendo a lápis no papel de rascunho? No torvelinho do embrulha
presentes, que se seguiu, lá se foi a página com o início da crônica.
Tenho nas mãos, agora, que pude voltar ao computador depois da
lanternagem do mesmo, os garranchos que restaram com o fim da crônica,
que aí vai. E a Árvore não vive só do cuidado, do carinho, no armar.
Houve desvelo e emoção ao desarmá-la, depois que passa a Festa dos
Santos Reis. Cada enfeite tem uma história, o amor de quem os coloca
nos galhos verdes de papel crepom. São embrulhados um a um em papel
fino e embalados. Muitos estranharão tantos cuidados em época tão
difícil. Concordo que é necessário ter muita sensibilidade e até mesmo
certo grau de ingenuidade para permanecer fiel ao espírito de Natal,
às comemorações de Natal, simbolizadas nesta casa pela Árvore, pela
Ceia, onde o filho em boa hora introduziu a leitura de frases de um
trecho da Bíblia, evoluindo depois para mensagens de fé de outras
publicações. Cada frase é lida por um dos familiares e às vezes só por
ele. E vozes velhas e novas, uma de cada vez, reproduzem antigas e
eternas verdades. E já em fevereiro a Avó começará a pensar na armação
da próxima Árvore, nos presentes de fim de ano, na nova ceia e esta
sensação por certo vai passando para o seu cotidiano, para seu papel
de suporte de uma família; função que desempenha como esmero e
eficácia, sem alarde, sem desejar maiores reconhecimentos. Faz parte
da tradição de Natal o sentido da doação sem esperar retornos ou
recompensas. Como seria bom se políticos copiassem as vivências dela!
Sabe-se que estas criaturas, que tanto doam e sem pensar na
retribuição, estarão no Reino dos Céus, onde por certo o Natal é
comemorado pelo Pai, que nos emprestou o Filho, que nasceu em um lindo
Natal, há dois mil e dezessete anos em pobre estábulo. Aleluia!
Aleluia! Que todos sejam abençoados. Feliz Natal. Feliz 2018.
–––––––––––––––––––––––––––––––
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(1º de janeiro 2018)
CooJornal nº 1.059
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.
|