O agora Brasil, 2017
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“Ninguém pretende que a Democracia seja perfeita, ou sem
defeito. Tem-se dito que a Democracia é a pior forma de governo, salvo
todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em
tempos”. Winston Churchill.
Com este pensamento de político inglês começa a crônica. E já o
usei várias vezes para esclarecer minha posição. Será que julgariam
mais próprio começar com o Conde de Afonso Celso e o seu “Porque me
ufano do meu País”, ou com o nordestino é antes que tudo um forte (a
frase é de Euclides da Cunha, Sertões, só que escreveu, o sertanejo é.
Será que pensam que sertanejo e nordestino são sinônimos?), ou com
Assis Valente (música Brasil Pandeiro) e o “Está na hora desta gente
bronzeada mostrar seu valor”? Na hora está. Será que a bronzeada está
preparada para tal? Vão chover pedras, só que o nordestino foi
preparado para ser engambelado e não para ser um forte. Pergunta que
se impõe. Quem é seu ídolo político no momento. Infelizmente não o
tenho e escrevendo assim, peço que em caso de dúvidas, voltem ao
primeiro parágrafo. E não sou anarquista. Sou um velho médico, ex
professor, que ainda clinica diariamente e por incrível que pareça tem
graves preocupações com o País. Quais são suas sábias ponderações e
sugestões para superar o momento atual? Com certeza nenhuma. Fiquei na
balança, julgando se os brasileiros seriam salvos, com a mudança da
estrutura dos lares, ou a das escolas. Nos lares há em maioria
despreparados. Já os professores seriam do estado, que mais vai a
lavagens cerebrais, quando busca doutrinar, em vez de educar. DIP do
Getúlio, Moral e Cívica da “Redentora”, ou os longos discursos de
Fidel em Cuba são exemplos marcantes. O que me contam professores de
desrespeito em salas de aula, é de chorar. Como recuperar alunos, se
os mesmos aparecem nas escolas destreinados, deseducados (penso em
maiorias), pelas famílias. Qual dos poderes poderia cuidar da
reconstrução do País? As notícias diárias mostram o que podemos
esperar do Executivo e do Legislativo. É cada armação! Marqueteiros,
dinheiros para campanhas e corrupções são fatos notórios. E pensam
sempre nas medidas eleitoreiras. Nem é farinha pouca meu pirão
primeiro. É atacar a farinha pouca dos outros, mesmo que os outros
sejam pobres e os achacadores buscam para as burlas embasamentos
legais. O Judiciário sofre de injunções políticas e até entre os
doutos ocupantes do Supremo há discrepâncias e que chegam à Imprensa e
com agressões até morais. O quarto poder, com raras exceções, ainda
que às vezes açodadamente, cumpre suas funções e há ao menos aceitável
transparência e liberdade de expressão. Aplausos ao jornalismo
investigativo. Ainda bem e volto a pensar no parágrafo inicial de
Churchill. A imprensa é perfeita? Perfeições não existem, só, que
procurando, há muito joio bem intencionado. De outro lado vejo com
tristeza muitos jovens desertando, emigrando, muitos definitivamente e
não os culpo. E a melhora por intermédio das religiões? O estado,
graças aos Céus, é laico e há políticos, religiosos, que quando
assumem cargos executivos, se sua religião não gosta, por exemplo, de
Carnaval, olha a festa popular, que até interessa às finanças do
estado, com olhares transversos e criando dificuldades. E não me
venham com os politicamente corretos, que me parecem querer achar
chifre em caracóis, ao invés de cuidarem de formação, informação e
educação do povo. E que fazer então no Brasil? Máquinas federais,
estaduais e municipais inchadas, algumas servindo de cabides de
empregos e o Legislativo tem que propor medidas tristes, injustas, só
que absolutamente necessárias. Como conseguirá? Os povos vão bem pelo
mundão? Não, vide a África e o Oriente Médio. Até os USA enfrentam o
Trump! E então? Oremos, oremos muito. Fui apenas a um “jus sperniandi”
(expressão jocosa, que nada tem com o Latim). Sou apenas um velho
médico muito preocupado e que estoura, se não dividir aflições nesta
amigável tribuna. E a fecho a crônica com antigo texto. “O país perdeu
a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos,
as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da
vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não
seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém
se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém
crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes
exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e
na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são
abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção
fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste
rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o
país está perdido!” Por favor, copy desk, deixe os aparentes erros do
texto acima, pois foi escrito em 1871, por Eça de Queiroz, no primeiro
número de “As Farpas”. Parece mais atual do que nunca, não acham? E
Portugal está ai firme, forte e muitos patrícios para lá emigram. De
novo, oremos.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de dezembro 2017)
CooJornal nº 1.057
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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