De ideia em ideia
|
|
“Não devemos ocultar /
Nosso grande amor chegou ao fim / Nada sou agora ao teu olhar / Nada
agora és para mim. / Mas não pode o nosso amor / Terminar de um modo
tão banal / Terminemos, sim, mas por favor / Não troquemos de mal. /
Não sei bem se voltarás / Se voltarei não sei também / Nosso amor é
bem capaz / De nos fazer trocar de bem.” Letra do foxtrote “Não
troquemos de mal”, H. Brito e J. Faraj. A letra cai bem esperta no
foxtrote. Sim já houve compositores que iam ao foxtrote tupiniquim e
foram bem. E uma curiosidade, se trocava de mal pelos idos de 1930/40.
Meninas então com os mindinhos trocavam de mal. E namorados trocavam
de mal. Trocamos de mal por um ano e meio, vendo-nos todos os dias.
Brigou comigo e então troquei de mal. Há termos e costumes que têm
modas e depois, ou somem, ou rareiam. Banal, usado acima, também já
foi mais usado até porque rima com mal. E quão pouco se rima hoje em
poesia. Era arte difícil, às vezes quebrava o espírito da poesia, só
que obedecia aos cânones clássicos dos vates. Há de fato sonetos muito
bonitos, ainda que raros, em relação ao contexto poético geral. E como
é difícil encontrar bons declamadores! Vi um português ímpar no palco,
João Villaret e no Brasil Júlia Lopes de Almeida. E como era chato
criança exibida ser chamada a declamar nos serões familiares!
Mariazinha recita muito bem! E se aplaudia Mariazinha com seu vestido
de tafetá. Agora uma do Raimundo Correa, agora um soneto de Bilac. E o
gaiato pensava, não vai declamar uma do Bocage? E muito dos jocosos
versos debitados ao Bocage, não são dele, como muitas das crônicas do
Arnaldo Jabor, que correm nos caminhos da internet, não são de sua
autoria e ele até já foi agredido verbalmente por algo que não
escreveu. E também aplaudido sem justa causa, porque o escrito não era
dele. Houve um número maior de bons cronistas e O Globo que o diga.
Quem colocar no domingo no lugar do João Ubaldo Ribeiro? Cadê
Zecamunista de Itaparica? Gostava mais do cronista que do romancista
baiano. Raramente os há ecléticos como Oscar Wilde, ótimo em vários
gêneros literários, vide suas peças teatrais, sua poesia, contos
(basta citar “O Rouxinol e a Rosa”), crônicas, romance, ainda que
único, “O retrato de Dorian Gray” e sem falar nos pensamentos e
paradoxos. Exemplo destes, “a madureza agradece à juventude o brilho
da sua inexperiência”. Paradoxos e trocadilhos estão em desuso. Morava
na Ilha do Governador e foi para Paquetá. Não é um trocadilho e sim
troca de ilha. Emílio de Menezes publicou um Tratado de Versificação,
pois precisava de numerário para tratar de sua saúde, para ver se fica
são. De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo. Barão de
Itararé. Será que o dito do Barão cabe na classe política atual? Ou o
Supremo nos salva? Também do Barão, “há algo no ar, além dos aviões de
carreira”. Que não seja ditadura! Frasista bom também foi Nenem
Prancha. Ou foi João Saldanha quem pôs pensamentos futebolísticos na
boca do Prancha? Pênalti é tão importante, que devia ser batido pelo
Presidente do Clube. Presidente, ou presidenta? Docente, ou docenta?
Confrade já é quase palavrão, imagine confreira? Confreira, com sua
exuberante verve, silicones e botox, és a glória deste Sodalício!
Quem? Ninguém. Confrade, ou confrada? Vários clubes têm três cores, só
o Fluminense é tricolor. Não gostou? Reclamações para Nelson
Rodrigues. Assim é, se lhe parece. É de outro escritor, que já esteve
mais em voga, Luigi Pirandello. Que parelha de beques, Pitigrilli e
Pirandello.
–––––––––––––––––––––––––––––––
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de setembro 2017)
CooJornal nº 1.045
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação,
eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.
|