01/08/2017
Ano 20 - Número 1.039
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Grajaú, juventude, madureza e
pomar
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Moro no Grajaú, bairro do Rio
de Janeiro (RJ), há mais de oitenta anos. Cresci no bairro, fui aluno
durante cinco anos de Dona Iracema Campos na Escola Municipal Duque de
Caxias e a esta professora muito devo. Primeira comunhão na Igreja de
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Guardo da comunhão a dúvida do que é
pecar contra a castidade e talvez já tenha pecado naquele dia, pois, havia
uma menina de olhos verdes de outra turma, também a receber a comunhão,
tínhamos dez anos, que monopolizou meu sacramento. Joguei basquetebol pela
Associação Atlética do Grajaú, que pena, hoje Grajaú Country Clube e pelo
Grajaú Tênis Clube, chegando então à seleção carioca juvenil de
basquetebol aos 17 anos. A Atlética venceu um campeonato carioca da
primeira divisão, nos tempos de Kanela técnico e jogador Algodão ambos do
Flamengo e mudou de nome! Brasilidades! A Associação Atlética do Grajaú,
sob a direção do jogador e técnico Ruy de Freitas (Ruy, Montanha, Helinho,
Cleto e Passarinho) foi campeã em 1950. Os dois clubes do bairro tinham
vários títulos nas categorias de base no basquetebol. Fui votar no Country
e nem mais cestas de basquete há na quadra, onde me iniciei no basquete
aos quinze anos e virei Pedro Karabina. Agora, 2016, apenas quadra de
futebol de salão! Depois dos dezoito trabalhar e estudar, depois trabalhar
e trabalhar com família a sustentar. Não fora a ajuda de Maria Helena e
financeira de meus pais, não teria dado conta de trabalhar na Caixa e
estudar Medicina na Escola de Medicina e Cirurgia. Findo o difícil curso,
fui o orador da turma. Que medo, fazer o discurso no Teatro Municipal
lotado! Deixei e com pena a cesta pelo estetoscópio, quando gostaria de
ter apresentado os dois e concomitantemente. Minha mulher e eu criamos
dois filhos e ajudamos a criar três netos, em verdade ela muito mais que
eu, no querido bairro. Agora passamos de casa com escadas para apartamento
e os amigos, que sabem que era morador na casa desde os 11 anos, perguntam
se não sinto falta dela. Não, porque basta chegar à janela do apartamento
e olhar a munguba, que cresce diante da minha ex- casa. A Rua Professor
Valadares é cheia de figueiras e como bodoques e espingardas de ar
comprimido saíram, que bom, de moda, os passarinhos cresceram em número no
bairro. Bairro que é outro em relação ao meu tempo de peladas na Avenida
Engenheiro Richard. Para, para, que vem carro. Era ainda época de poucos
automóveis. Novas ruas foram abertas acima da Rua Canavieiras. Criaram uma
reserva florestal, portanto vi o bairro crescer ainda mais. Muitos
familiares, que aqui moraram, foram para a Zona Sul e ficamos só nós dois.
Não vejam qualquer laivo de lamentação na afirmativa, até porque somos
ainda muito mimados pela família. Leblon e Ipanema não ficam tão longe e
os de lá vêm cá e nós vamos lá. Pronto falou do bairro, da sua amizade,
agarramento mesmo. E por que o pomar no título da crônica? Tenho cliente
que às cinco da matina já está caminhando pelo bairro e depois vai para
uma hora de piscina no GTC. E um dia falei com ele dos tamarinos da
Engenheiro Richard. Ao que o Célio avisou que não é só de tamarineiros que
vive o bairro. E depois da profilática consulta me deu pormenorizado
roteiro, mostrando que se pode ainda comer frutas no Grajaú.
Gratuitamente, lógico. Propositalmente não vou detalhar os locais das
árvores frutíferas, como ele fez, pois, algum dos meus sete leitores pode
ser grajauense e iria disputar as frutas com o madrugador caminhante. No
mapa que me traçou, há pormenores, como esquina com que outra rua, na rua
tal em frente à rua tal, ou perto do jornaleiro, etc, enfim um curioso e
saudável roteiro. E as crianças do bairro deixam as frutas sem apanhar?
Por certo estarão mais preocupadas com games, digitações estropiadas, ou
vendo o que ainda não têm amadurecimento para ver. No meu tempo de
moleque, aquelas frutas... Vamos lá: Goiaba – Rua Canavieiras; Caju – Rua
Itabaiana; Pitanga – Rua Itabaiana; Fruta de conde – Rua Itabaiana e Rua
Mearim; Limão – Rua Visconde de Santa Isabel; Tangerina – Rua Visconde de
Santa Isabel; Goiaba vermelha – Rua Araxá; Tamarino – Avenidas Engenheiro
Richard e Júlio Furtado; Romã – Rua Borda do Mato; Manga – Rua Itabaiana;
Mamão – Rua Grajaú; Graviola – Avenida Júlio Furtado; Acerola – Rua
Visconde de Santa Isabel; Abacate – Avenida Engenheiro Richard e Rua
Itabaiana. Dá para fazer verdadeira salada de fruta e sem um detestável
licor que os restaurantes colocam sobre as frutas, servidas em berço de
mamão e a preço de ouro. Parodiando Noel Rosa e sua Vila Isabel, o Grajaú
não quer abafar ninguém, só quer mostrar que tem pomar também.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(01 de agosto 2017)
CooJornal nº 1.039
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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