15/06/2017
Ano 20 - Número 1.033
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Mundo de cada um
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Cada ser é um mundo, ainda que a recíproca não seja verdadeira. E
seres, dos mais primitivos aos mais evoluídos, vivem de seus julgamentos,
para criar seu mundo. E julgamentos desastrosos é que não faltam em terras
tupiniquins e mesmo nas estranjas. E, queiram ou não, há que julgar e até
comparar. A base da maioria dos julgamentos vem de comparações. Que tal
por a escolher e aleatoriamente. Hitler ou Churchill. Paulo Coelho e
Machado de Assis. Dercy Gonçalves e Fernanda Montenegro. Anitta e Elis
Regina. Lula e Rondon. Trump e Obama. Dunga e Tite. Ficaremos sem
estatística para saber as preferências. Tenho certeza que alguns
resultados seriam de pasmar, ainda que se tivesse absoluta confiança no
serviço de pesquisa. As pesquisas eleitorais estão cheias de mostrar
equívocos e nem sempre há meandros a descobrir para contestar resultados.
Fugindo um pouco de julgamentos imediatos, muitas vezes só a posteridade,
julgamento tardio, vem dar chancela de valor, quando Inês já era morta.
Escritores como Franz Kafka, que nem a posteridade desejava deixar sua
obra, são raros. Que se danassem leitores, ou posteridade, Kafka escrevera
para ele próprio e não fora a desobediência de sua vontade, seus escritos
teriam sido queimados. E a mídia manda (e quem manda mais que a mídia?),
que à menor produção, seja em que campo ocorrer, merece que o autor saia
por ai cacarejando alto e se fazendo notar, em busca dos tais minutos de
popularidade preconizados por Andy Warhol. Esta efêmera notoriedade muitas
vezes discrepa da posteridade e na lista de opções acima exemplos podem
ser garimpados. E há obras que saem sob pseudônimo. Um exemplo bizarro, na
época do início do samba. Duas gravadoras de peso queriam a voz de um
cantor. Que fazer? Em uma gravava como Francisco Alves, na outra como
Chico Viola e as duas, em conluio, ficavam satisfeitas. Um dos livros mais
importantes de nossa literatura e dos mais longevos em vendagem e dez
editoras ainda o imprimem, “Memórias de um sargento de milícias”
(1854/1855, em dois volumes), foi publicado e como autor Um Brasileiro.
Problemas políticos enfrentados, à época, pelo autor, Manuel Antônio de
Almeida, patrono da Academia Brasileira de Médicos Escritores, fizeram
optar por publicar sob pseudônimo, o livro que começa assim. “Era no tempo
do rei”. Autor, Um Brasileiro. Postumamente Quintino Bocaiuva e Machado de
Assis conseguiram edição que trazia então o nome do autor, que falecera em
naufrágio de navio precocemente. E o mundo deste médico foi bonito e de
muita luta para sobreviver e manter sua família, tanto que não exerceu a
Medicina, fato que muito o entristecia. Viver é complicado, pois há que
fazer escolhas, julgamentos e em todos os momentos. Valeu a pena digitar
esta crônica? De fato nunca ficarei sabendo, pois o que souber, pode não
bater com a verdade. “C´est la vie”, nem sempre “en rose”.
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Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de junho 2017)
CooJornal nº 1.033
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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