15/04/2017
Ano 20 - Número 1.025
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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De Edimburgo ao Rio de Janeiro e antes passando por Londres
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Edimburgo. Em sua autobiografia Conan Doyle cita seu mestre o
Professor de Cirurgia da Policlínica da Edinburgh Medical School, Joseph
Bell, como sendo o inspirador da sua criação mais importante para os
leitores de todo o mundo, o detetive Sherlock Holmes. Conta a seguinte
passagem, que mostra o método de diagnóstico do Professor Bell: "Um de
seus casos mais notáveis foi quando ele se dirigiu a um paciente vestido à
paisana: – Quer dizer meu amigo, que você serviu ao exército? – Sim,
senhor. – E não faz muito tempo que deu baixa? – Não, senhor. – Um
regimento dos Highlands? – Sim, senhor. – Como suboficial? – Sim, senhor.
– Acantonado em Barbados? – Sim senhor. – Como podem ver, cavalheiros,
embora se trate de um homem respeitador... ele não tirou o chapéu. Não se
tira no exército. Entretanto, se ele tivesse dado baixa há muito tempo,
teria assimilado hábitos de civil. Ele tem um ar de autoridade, e é,
evidentemente, um escocês. Quanto a Barbados, o problema dele é
elefantíase - doença das Índias Ocidentais e nem um pouco britânica."
Portanto o escritor levou em conta o método do professor, só que com tanta
capacidade, que imortalizou o morador de Baker Street 221 B.
Londres. O Dr. Watson estuda um cliente de Sherlock e não chega a
conclusões de peso. Sherlock percebe que o amigo analisa o cliente e então
diz: “Além das evidências que ele trabalhou como operário em alguma época,
cheira rapé, é maçon, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não
consigo deduzir mais nada.” O cliente fica espantado e Sherlock então
explica item por item e com total lucidez o que vira para chegar às
referidas conclusões. Dados retirados do conto “A liga dos cabeças
vermelhas”. Animo o leitor a procurar o conto e encantar-se com os motivos
que levaram Sherlock Holmes a chegar àquela pormenorizada descrição. Em
outro conto, olhando um chapéu, faz a pormenorizada avaliação do
indivíduo, sem vê-lo. No resto do conto o personagem bate com a descrição.
Vale lembrar e li com espanto que Conan Doyle julgava mal seu herói
Sherlock Holmes e o matou logo, porque julgava que Holmes e suas deduções
faziam eclipsar o autor de romances históricos importantes, que Doyle era
e citava o livro “A Companhia Branca” como muito melhor do que os casos
relatados pelo Dr. Watson. Por imposição do Editor, Holmes e o Doutor
foram redivivos, ainda que tivessem vida curta. Outro fato interessante é
que Doyle criticava Edgar Allan Poe, porque seu detetive Dupin também ia
ao método dedutivo, para elucidar crimes. Vale ler, ou reler, Sherlock e
também a “Companhia Branca”.
Rio de Janeiro
– Santa Casa – Sessão Clínica de destaque na Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro, na época o destaque da Medicina
Brasileira, porque reunia os melhores médicos e professores do estado.
Todos os que tinham algo a dizer, frequentavam esta sessão semanal. E o
apresentador do caso daquela semana, começa pondo os RX do tórax no
negatoscópio. Um médico fala, cessa o burburinho pré-sessão e todos param
para ouvi-lo. É mulher. Riram. Estava na cara. Negra. Ninguém riu. Um
perguntou. Conhece a enferma? Resposta. Logicamente que não. Ela tem uma
úlcera na perna. Todos atentos. É caso de anemia falciforme. A sessão
estava encerrada antes de começar. Quem deduzira tudo, face à lesão vista
na vértebra mostrada no RX do tórax da paciente? Quem escreve não estava
na sessão, começava a dar seus primeiros passos na Medicina e fora aluno
de quem fechara a sessão, antes desta começar. Este médico tinha como
Especialidade a Radiologia e em todos os concursos da Clínica Médica que
concorreu, logrou o primeiro lugar e ninguém estranhou este sucesso, que
era esperado. Se não estava na sessão, como soube do evento? A Santa Casa
tinha sua memória e seus casos de relevo. Nome do médico, Amarino de
Oliveira, que em 2016 foi homenageado pela Academia Nacional de Medicina e
com total mérito.
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de abril 2017)
CooJornal nº 1.025
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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