01/04/2017
Ano 20 - Número 1.023
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Check in e check out
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Concordo quase integralmente com a campanha do Ancelmo Gois, de O
Globo, dos pontos fortes do jornal, quando combate o uso de termos em
inglês no dia a dia. Já houve tempo de galicismo, só que evoluiu e
passamos ao idioma inglês e nem preciso citar exemplos, tantos são.
Revisão, ou verificação, de entrada e de saída não me parecem abrangentes
como os dois checks. E todos temos checks in de chegadas e out de
partidas, uma sempre dependendo da in inicial para chegar ao out final.
Matutava sobre estas incorporações linguísticas, quando pego avô olhando
ternamente para neto. Mais de oitenta anos, menos de um ano. Se fosse
decodificar o olhar do idoso, estaria perguntando ao alvo de sua ternura,
se daria tempo do neto se lembrar dele, antes do check out derradeiro.
Seria difícil prever, em função da idade avançada e da tenra idade do
neto. Como esta pergunta persiste na maioria das mentes e sem respostas
definitivas, sejam defesas religiosas apregoadas, ou filosóficas! Na
maioria das viagens o check in é mais prazeroso que o check out, quando o
passeio chega ao fim e avulta o dia a dia rotineiro. As ocorrências
nefastas das viagens ficam para o check out. A preparação para as férias
faz parte do check in e tradicionalmente há férias, novidades. De outro
lado defendo que os verdadeiros amores não têm check out. E se um morrer?
Morreu o um, não o amor, já que discordo, oh ousadia, de Vinicius de
Morais, quando determina que o amor seja eterno, enquanto dure. Se é amor,
bilateral, verdadeiro, não aceitará verificação final, prima que é do
precisamos discutir a relação. A discutir, já era e até é possível que
morra sem luar e sem violão (Noel Rosa). E que na verificação de que o
amor morreu, não fiquem filhos, nos rescaldos do fim da viagem desastrosa,
cujo carimbo final bateu desamor. Voltando à vaca fria, acredito que usar
o check in e check out merecem persistir porque traduções não englobariam
tudo o que as duas locuções permitem. Já halloween e principalmente sale
(por liquidação) sejam terríveis. Ainda que a Cole Porter, “Love for sale”
seja genial. Esta música é plena de check ins e check outs, que só gênios
musicais conseguem. Já nos chegava a Risoleta, que só quer falar em inglês
ou no francês. Ainda Noel. A última flor do Lácio é idioma rico e não
precisa de termos acessórios. O Noel apareceu na música “Não tem
tradução”. Noel é destes compositores que ficam e ficam e carecem de check
out. Concorda?
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(01 de abril 2017)
CooJornal nº 1.023
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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