15/2/2017
Ano 20 - Número 1.017
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Quintana & Rosa
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Mário Quintana. “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis
dizer, é porque um dos dois é burro.”
Guimarães Rosa. “Não procuro
uma linguagem transparente. Ao contrário, o leitor tem de ser chocado,
despertado de sua inércia mental, da preguiça e dos hábitos.”
Do
gaúcho Quintana vem uma das minhas obsessões literárias e muito já escrevi
sobre o tema e até consegui prêmio com o mesmo na Academia Brasileira de
Médicos Escritores com crônica sobre as tentativas de Mário Quintana para
entrar na Academia Brasileira de Letras. Foram três derrotas e será que a
falta de critério nas eleições, digito em geral e não focando
especialmente as três eleições, face ao tipo de pleito utilizado, com
cambalachos e pedidos de votos, pode envergonhar vencedores? Duas
perguntas se impõem e acredito que perguntar não ofende. Será que os três
imortais vibraram muito com as vitórias? Será que acreditaram que tinham
mais méritos literários do que o poeta derrotado? Depois das decepções
veio o “Poeminha do contra” de Mario Quintana, “Todos estes que aí estão/
atravancado o meu caminho/ Eles passarão/ Eu passarinho.” Do mineiro
Guimarães Rosa e seus neologismos, se deve ter cuidado ao comentar algo.
Poucos escritores têm cultuadores tão ardorosos quanto Guimarães Rosa. Se
algum incauto faz observação quase menos elogiosa sobre sua meritória obra
para um destes seguidores, cuidado, já que lhe cai o mundo na cabeça e
quiça tenha que se haver com diatribes. É heresia qualquer reparo feito à
obra, inegavelmente importante, parecendo até religião e das que não
acreditam que podem ter cometido equívocos. E me reportando às duas
frases, que deram início à crônica, ouso dizer que estou com Quintana. Não
desejo que o escritor tente sacudir o leitor, ou espantá-lo, porque corre
o risco de ter seu livro fechado e jogado em algum desvão da casa, já que
foi expulso da biblioteca. Sobre os neologismos do escritor das Gerais, há
dicionário com verbetes relacionados à obra do escritor de “Grandes
Sertões Veredas”, “Léxico de Guimarães Rosa” de Nilce Sant´Anna Martins.
Explica até o “nonada” ... Poucos autores tiveram honra semelhante. Lembro
o não lido, confesso e cheguei a comprar exemplar, de “Ulisses” de James
Joyce. Amigo e culto me aconselhou a iniciar Joyce por “Retrato do Artista
quando Jovem” e me presenteou com um exemplar. Em homenagem ao interesse
do amigo na minha discutível cultura, li todo o retrato e ainda não a
principal obra de Joyce, que sobrevive através os tempos e na minha
biblioteca ainda em celofane. Temo que assim perdure! Fui ao
“Dublinenses”, contos, apenas palatáveis. E há escritores que
continuamente explicam “Ulisses” e seu autor. E as frases que iniciaram a
crônica? A escolher pelo leitor. Só que eles passarão, Quintana
passarinho!
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de fevereiro, 2017)
CooJornal nº 1.017
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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