15/07/2016
Ano 20 - Número 992
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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MINHA TIA
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Quando o cronista apela para histórias
da tia, deve estar sem assunto. Não é o caso, estando no Brasil e em maio
de 2016, quando ocorre o processo de impeachment da presidente. Só que nem
sempre os assuntos são agradáveis. Histórias sem mocinhos e fujo deles. E
as histórias da tia, quase mãe para mim, são impagáveis. Não, não perdi
minha mãe cedo, nem pai, só que morando no mesmo bairro, vivia também na
casa do Vovô Diniz e lá moravam minha tia Nadyr, solteira, um encanto de
pessoa, minha tia Renée, seu marido, Tio Petraglia, meus três primos,
Mana, Miú e Fred, quase meus irmãos, de tanta convivência no Rio, no
Grajaú. Em Petrópolis as casas de veraneio eram coladas e continuávamos
juntos. Bons tempos, ainda que vá me fixar agora na Tia Renée. Era muito
engraçada, ainda que não estivesse a fim de fazer graça. Explico-me, não
forçava situações hilárias. Formada em Contabilidade, onde conheceu meu
tio predileto, Francisco Petraglia, largou a profissão para cuidar dos
três filhos. Ao invés de ficar elogiando e merecia, pois me socorreu em
hora ingrata e como!, vou aos casos engraçados e diga-se que nada fazia,
enfatizo, visando ser engraçada, ou espirituosa. Distraía-se, tanto que
quebrou por duas vezes o braço, subindo na escada portátil pelo lado dos
degraus e descendo pelo lado sem degraus. Está provado que nada fazia de
forma estudada para ser diferente, que tola não era, muito pelo contrário.
A família tinha um médico cujo sobre nome era Robalinho. Eram vários
ilustres médicos com mesmo sobrenome e um foi meu professor de Neurologia.
E a tia teve que dar uma informação sobre um dos pacientes da família. _
Pois é, Dr. Ladrovino. Meu tio Petraglia teve um chefe importante chamado
Cristóvão. Dr. Cristóvão. Telefona para falar com meu tio, que ainda não
chegara. _ Pode deixar Dr. Colombo, tão logo chegue, dou seu recado. O
pediatra da família em determinado período se candidata a vereador e tia
Renée passa o dia inteiro telefonando, para dar notícias de um dos filhos,
adoentado. E todos os clientes reclamavam daquela nova atividade, a
campanha política, que tomava tempo do ótimo pediatra. E de noite o Dr.
Waldyr telefona e pergunta o que houve. _ Dr. Político, a febre não cedeu.
Tio Petraglia chega à casa de Petrópolis, rua Monte Castelo e de graça põe
uma terrível máscara de borracha, de macaco, que lhe cobria todo o rosto.
Para na porta da casa, buzina, tia Renée vem, os automóveis não tinham
vidros escuros, olha o automóvel, que não era novo com o marido, entra e
avisa calmamente aos de casa. _ Não era Petraglia! O tio tira a máscara e
entra em casa reclamando. _ Com Renée, ela não presta atenção, nem se pode
brincar! Tia Renée vai ao cinema assistir um filme italiano, famoso à
época, com Marcello Mastroianni e a linda Claudia Cardinalle, com o título
de “O Belo Antônio”. Chega à casa e conta ao tio. _ Petraglia, hoje fui
ver “O Bonito João”! Acredito que o caso mais marcante seja o a seguir.
Minha prima mais velha, ainda que bem mais nova que eu, ganhou lindo
guarda-chuva italiano. A tia ia à cidade. Dizia-se quando se ia ao centro
do Rio, Rua do Ouvidor e adjacências, fazer compras, ir à cidade. Chove,
não acha o próprio guarda-chuva e avisa que vai levar o da filha, que teme
vê-lo esquecido e não voltar para casa. _ Mamãe, não vá perdê-lo, que nem
posso substituir! E lá foi a tia à cidade, para voltar de carona com o
marido. Vai ao encontro dele no Ministério da Fazenda, ao fim de suas
compras. Ainda chove e muito amolada conta, coberta por um velho
guarda-chuva. _ Imagine que fui à Casa Sloper e fui roubada. Estava no
balcão e uma freguesa pegou meu guarda chuva, aquele bonito da Mana,
escondeu o meu e deixou o dela, este velho, todo ruim e ainda fez cara
feia para mim. _ Renée e este outro guarda-chuva que você tem aí no braço?
No braço, fechado, estava o italiano da filha. Foi ela quem “roubou” o
velho guarda-chuva da outra senhora, que não teve coragem de reclamar e só
olhou feio. E tia Renée voltou com dois guarda-chuvas para casa. Há mais
casos hilários, só que julgo que já chegam estes, duas quedas da mesma
escada, Ladrovino por Robalinho, Cristovão por Colombo, Dr. Político por
Waldyr, máscara de macaco, “O Bonito João” e finalmente o caso do
guarda-chuva italiano. Muitas saudades dela e sua risada gostosa...
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de maio, 2016)
CooJornal nº 984
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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