15/04/2016
Ano 19 - Número 980
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Na cola de
três escritores, Jorge Amado, Eça de Queiroz e Barão de Itararé e de
um importante político, Winston Churchill
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Começo com Churchill. “Ninguém pretende que
a Democracia seja perfeita, ou sem defeito. Tem-se dito que a Democracia é
a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido
experimentadas de tempos em tempos”. De pleno acordo, ainda mais no atual
momento, em que a constituição tem que ser respeitada e impeachment não é
golpe e já derrubou legalmente Collor.
Do livro “Navegação de
Cabotagem”, de Jorge Amado, Editora Record, publicado em 1992. Vale dizer
que o livro não teve a repercussão desejável, pois sua colocação política
no livro, revendo conceitos e sem antolhos, não agradou aos que não sabem
distinguir paixão de futebol de partido políticos. Para não falar dos que
se beneficiam financeiramente de determinadas correntes políticas.
Transcrevo o que disse o escritor baiano na página 10, sobre o ex
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Atento, acompanho nos vídeos a
trajetória de Lula, candidato do poderoso Partido dos Trabalhadores, cuja
fundação durante o regime militar tanto me alvoroçou. Não conheço Lula
pessoalmente, dele falam-me bem e acredito. Parece-me homem direito, hoje
coisa rara, sua atuação de dirigente sindical nas greves dos metalúrgicos,
durante a ditadura, foi exemplar. O alarmante sectarismo de seu discurso
eleitoral, ao que tudo indica, não é inerente à sua personalidade, decorre
da própria campanha, influência talvez dos ideólogos do PCdoB que a
dirigem e orientam. Discurso de um atraso pasmoso, como é possível
imaginá-lo diante dos acontecimentos do leste europeu, ao fim de uma
época, quando ruem teorias e estados, se desmorona o socialismo real, se
assiste ao funeral da ditadura do proletariado? Discurso classista, aponta
exatamente para a ditadura do proletariado: tão antigo e superado, dá
pena. Chamo a atenção de Zélia para o fato de que jamais, no decorrer dos
dois programas diários de propaganda eleitoral, em nenhum do momento o
candidato do PT pronunciou a palavra povo, nem ao povo se dirigiu. Fala em
nome dos clãs da classe operária e a ela se dirige, amanhã no poder será a
ditadura em nome dos trabalhadores, em nome do socialismo. Zélia não se
altera, mantém íntegro seu entusiasmo cívico, trauteia, em reposta, o belo
jingle de Chico Buarque: LULA – lá. Eu lhe digo, para atazaná-la: _ O
discurso de Lula parece escrito em Tirana pela viúva de Enver Hodja.
Dou-me conta que estou dizendo a pura verdade.” Nota lateral na página:
“Enver Hodja (1898/1985), ditador albanês de 1945 a 1985”. O que pensaria
Jorge Amado de Lula nos dias atuais (2016)?” É pergunta, sei, que ficará
sem resposta, ainda que possamos elucubrar sobre a mesma, em face de
muitos fatos comprovados e provados e da argúcia do brilhante escritor.
Volto de 1992 para 1871 e encontro nas “As Farpas”, de Eça de Queiroz,
edição periódica que tinha também a colaboração de Ramalho Ortigão: “O
país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão
dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A
prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio
que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes
exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na
inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a
uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um
ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu
todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!” Isto
foi escrito em 1871, por Eça de Queiroz. Parece mensagem absolutamente
atual. E o escritor referia-se a Portugal e nem pensaria que no Brasil, em
2016, o texto fosse parecer retrato sombrio de atualidade muito
complicada.
Fecho a crônica de transcrições, ao ver do cronista, ao
menos oportunas, com o Barão de Itararé. “De onde menos se espera, daí é
que não vem nada mesmo.” Ou, ainda da pena do Barão, “Há algo no ar, além
dos aviões de carreira.” Há que ter muito cuidado com o que anda no ar e
envidemos todos os esforços para que continuemos em regime democrático,
por pior que seja nossa classe política. Esperemos que o STF tenha
ministros à altura da sua importância para os brasileiros, pobres ou
ricos, sem nunca levarem em conta as mãos governamentais que os elevaram
ao tribunal mais importante do País. O futuro do País está nas mãos, nas
sentenças e no patriotismo, dos ministros do STF. Dura Lex sed lex. Até o
Gumex já parodiou a frase do a lei é dura, mas é a lei. Só que sem leis
morais, éticas e tribunais meritórios, estaremos, aí sim, inteiramente
ferrados.
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de abril, 2016)
CooJornal nº 980
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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