01/03/2016
Ano 19 - Número 974
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Caminhando na Altenhaus - 2016
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Ando nas férias e tomara continuasse mesmo fora delas. Com músicas em
engenhoca preparada pelo neto Maurício, há uns sete anos. Isto de usar
fones só acontece de ano em ano nas caminhadas em Itaipava. Acompanham-me
aleatoriamente Elis, Milton, Dick, Tom, Vinicius, Zé Ramalho, os Caimmys,
Toquinho, JG, Gal, Chico, Takay, Calcanhoto e muitos outros. De
estrangeiro agora só Adamo, "c´est ma vie". E
hoje esqueci a engenhoca e fico sem os amigos cantantes. Foi boa
experiência. Saudou-me logo uma borboleta negra, que com linda mancha
azul encanta a manhã. Lagarta, borboleta, vida efêmera, que não sabe e voa
alegre. Já houve malvados que as apanhavam para aprisionar em cafonas
bandejas para inglês ver e comprar. Fui adiante e comigo, andando. Muitas
vezes é bom me aturar um pouco. Ficar pensando sem telinhas, ou vozes,
para entreter. Passos e pensamentos. À vezes ao léu, outras dissecando os
problemas do passado, presente e dando bicadas no futuro. Percebo que de
fato o bicho homem do século XXI, nas grandes aglomerações, está muito
assoberbado de excitações externas. Correria, gritaria, empurrões de toda
a espécie e um tal de, se me empurram, hei de empurrar também. E diante de
tanta comunicação em tempo, em mídias, perdeu-se muito da comunicação
olho no olho, verdade contra verdade. Perdemos sutilezas. E há verdadeiro
fosso entre gerações e não adianta dourar pílula, na esperança de já foi
pior. Mortos pouco cultivados e cultuados, “morreu, morreu, antes ele do
que eu”, bola para frente que atrás vem gente. Eu sou moderno. Que pena!
Modernismo sem tradição, igual a descompasso. As jacutingas não aparecem,
a gata que come ratos, parece que matou os dois ternos esquilos. Meia
hora, uma volta no campo de tênis em 54 segundos, mesmo tempo do ano
passado. Voltando à vaca fria, é preciso me afastar da correria
infrutífera geral, dos almoços de negócios e voltar
às cavaqueiras pós
prandiais dos domingos, conviver mais comigo mesmo e com amigos,
descartando estes contatos fortuitos com conhecidos. Com ela vou bem, só
que sempre se precisa melhorar, idem com familiares e verdadeiros e
longevos amigos, sem engenhocas eletrônicas de permeio. Vou caminhando,
ainda faltam 5 minutos. Quaresmeira, ipês e fedegosos pintam a mata de
roxos e amarelos. Quaresma, e me dizia Tia Anastácia que na quaresma o
coisa ruim anda à solta. E como existem coisas ruins soltos e chamados de
excelências. Não quero descambar para os malfeitos atuais. Desejo momentos
de introspecção, pernas andando, sol e protetor na pele e pensando. Se
prescrevo caminhadas, que ande. Vou atingindo o tempo limite, agora no
longo gramado. Verde que “te quiero verde”. Preciso pôr mais poesia em
minha vida, ainda que goste de poucos poetas. Tenho-os em músicas e disto
não posso me queixar e já dei exemplo. Quarenta minutos, suado, mais leve
e que os pensamentos frutifiquem em ações, se não foi tempo de tiro no
próprio pé. E no tempo de prorrogação da caminhada aparece uma solitária
jacutinga e encerro o alongamento mais alegre, ainda que tenha vontade de
perguntar à ave, cadê sua parceira e o filhote?
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(1º de março, 2016)
CooJornal nº 974
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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