Água, condomínio etc
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O mundo precisa economizar água, ninguém discute, até porque em terras
tupiniquins a água é cara e nem sempre São Pedro acerta nos locais onde a
água vai ficar estocada. Eis que leio nos jornais, novembro de 2015, que
nos novos prédios, obrigatoriamente, os hidrômetros serão
individualizados, isto é, cada apartamento paga a água por seu próprio
consumo. Em prédios antigos não haverá a obrigação, face aos custos que,
conforme o sistema de distribuição de água no imóvel, a instalação poderá
custar de quinhentos a cinco mil reais. Há meses em reunião do condomínio
abordei o assunto e fui informado do custo excessivo para colocar a água
da forma agora preconizada para prédios em construção. E que então
ficasse, em relação à água, tudo como dantes neste quartel de Abrantes.
Por falar nestas reuniões de condomínio, confesso que sou marinheiro de
primeira viagem em relação a morar em prédio. Durante mais de setenta anos
morei em casa e em frente ao atual prédio, sempre ouvindo amigo falar
horrores das reuniões do condomínio do prédio onde mora na Tijuca e a
informação vinha também de outras fontes. Confesso que nunca fui a uma no
prédio, onde tenho consultório, pois segundo me contaram, quando cheguei
ao prédio há mais de cinquenta anos, não era saudável ir às mesmas, tais
as brigas que ocorriam e às vezes em nível desagradável. E vim morar em
prédio. Sente falta da casa? Não, chego à janela. E passei a frequentar as
reuniões de condomínio e até falei acima que abordei o assunto
hidrômetros. Vale asseverar que as reuniões transcorrem em clima ameno e
gentil e as discussões, quando ocorrem e devem ocorrer, têm conotação
tranquila e todos de fato procurando a melhor solução para os problemas
comuns e aceitando democraticamente a vontade da maioria. Para dar ideia
do que ocorre nas mesmas, conto que quando cheguei ao prédio e já conhecia
alguns dos moradores, não me sentei logo na janela das vagas da garagem.
Tenho carteira de motorista há mais de sessenta anos e para frente não
posso reclamar. Já de marcha ré... E um vizinho, infelizmente já falecido
(obrigado Paolino), percebeu minhas dificuldades automobilísticas e,
pasmem, ofereceu-se para ficar com a vaga ruim e passou-me a onde estou,
boa e confortável. Tentei demovê-lo do oferecimento, só que era para
valer, insistiu e por fim aceitei. Creio que o fato comprova a boa vontade
reinante. E voltemos à água. Se julgam que pensei nos meus reais, digo que
sim e não ao mesmo tempo. Não sei se, individualizando o custo da água por
apartamento, faria economia. No meu apartamento mulher, eu e uma
empregada. Há alguns apartamentos com maior número de pessoas, só que
deixam o prédio nas sextas e voltam após o fim de semana. Portanto não
faço a menor ideia se a medida seria econômica para meu bolso de
aposentado, que continua trabalhando e com prazer e pacientes. E então
filosoficamente acredito que se cada um cuidar da sua água e em todos os
sentidos, como deve cuidar por exemplo do seu voto, a sociedade progride
mais. Portanto não tenho certeza da economia pessoal com o hidrômetro
individualizado e chego à idade que certezas escasseiam e crescem dúvidas.
Na vida, a necessidade de que responsabilidades pessoais sempre existem,
deste fato não cabem dúvidas. Cuidado com sua água e mais ainda com seu
voto. Que tempos tristes na política!
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pdaf35@gmail.com
(1º de dezembro, 2015)
CooJornal nº 962
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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