15/07/2015
Ano 19 - Número 944
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Curtas de ex-professor
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“Quem julgar que a crônica ficou muito pessoal, estará coberto de
razão.”
Vale dizer que entre os crimes hediondos, destaco o estupro e só mesmo
determinado político, que até a Interpol procura e continua com
representação parlamentar, apregoava, “estupra, mas não mata”. Vamos a caso
verídico. Tive aluna injustiçada em nota lá pela década de mil novecentos e
oitenta e enquanto seus colegas se irritavam, diziam horrores de quem dera
as terríveis e injustas notas, ouvi de uma aluna. Calma pessoal, perante o
estupro relaxe e goze. Em relação aos estupros emocionais, que todos algum
dia sofremos, se for possível mitigar a injúria, no caso não sexual, o
conselho pode servir de consolo. A aluna estava entre vinte e dois e vinte e
seis anos. Foi ser médica em Israel, deve ser ótima profissional e nunca
mais soube dela. Desejo-lhe felicidade.
Nos contatos com alunos e
depois de me aposentar do magistério e com salário irrisório, em relação à
dedicação e ao trabalho desenvolvidos, muito me alegro. Já ouvi dos meus,
após estes encontros. — Você plantou. É música para meus ouvidos.
Voltando aos salários dos professores aposentados do magistério superior,
pode parecer que fui mais injustiçado que outros e este fato não ocorreu. Na
Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO éramos professores e médicos ao
mesmo tempo e sem ganhos especiais pelas duas tarefas. O Hospital Gaffrée e
Guinle tinha cinco médicos e a Escola entrava com cerca de quatrocentos
professores, para tocarem a assistência e o ensino.
Muitas chateações
na vida no Gaffrée e Guinle? Digamos 3% em relação aos prazeres de 97%. E
estas amolações vieram muito mais de cima do que dos alunos. Depois de
trabalhar de graça durante 13 anos, já aposentado, equívocos superiores
fizeram-me pendurar chuteiras e contra a vontade até do Diretório Acadêmico
da Escola de Medicina e Cirurgia. Nesta ocasião, 2006, deixei de dar o Curso
Básico de Eletrocardiografia e o de Terapêutica Cardiológica, um em cada
semestre.
Dá para citar alunos especiais? Cometendo centenas de
omissões indesculpáveis, vamos a duas citações nepóticas, Carlos Diniz
Franco e Mariana Franco Mitidieri. Além de ótimos alunos e hoje
profissionais de sucesso, são respectivamente filho e neta. E dos outros
alunos? Cometendo de novo flagrante injustiça, cito dois, que conservaram
amizade e que representam um batalhão de ótimos alunos. Os dois são da mesma
forma profissionais de mérito e muito publicaram comigo. Eduardo Bahia
Santiago, que na minha admissão por concurso ao magistério superior de
Clínica Médica muito me ajudou na preparação da extensa matéria e Karla
Costa Rodrigues, que foi quem mais publicou trabalhos médicos comigo.
Publiquei em minha vida universitária 3 capítulos de livros de Medicina e
101 artigos de revisão, ou pesquisa, em revistas médicas. Alguns alunos, se
lerem a crônica, vão com razão reclamar e pensar, não me citou. Aceite, a
crônica tem espaço demarcado. E nos quatro alunos emocionalmente você está
representado (a) e até na minha memória. Ainda bem que tenho centenas de
nomes nesta lista, alguns luminares em suas especialidades e espalhados por
todo o País. Citações nominais têm destes percalços.
Se o indivíduo é
feliz na profissão, aposenta-se com grande sensação de perda e o faz por
este o aquele motivo. Entrei na Escola de Medicina e Cirurgia, hoje da
UNI-RIO, aluno, trabalhando na CEF. Solteiro, casei aluno e minha filha
Denise foi com três anos minha madrinha de formatura. Fui Professor de
Física Médica e em seguida Professor Assistente da Clínica Médica III por
concurso público e aposentei-me Professor Adjunto IV e com o título
honorífico de Professor Consultor desta Disciplina. Depois, enorme e
inesperada emoção, Professor Emérito da UNI-RIO, com título votado por
unanimidade no Conselho Universitário. Tudo se passando no Hospital Gaffrée
e Guinle, de onde fui até Superintendente Médico. Muitos e muitos anos de
Gaffrée, tantos que Maria Helena a bico de pena fez a fachada do Hospital.
Este quadro está pendurado na parede do meu consultório. É muito admirado
pelos pacientes e ainda me causa emoção olhá-lo.
E médicos que
tenham servido de exemplo? De novo omissões pela lista, que é enorme, ainda
que menor do que a dos alunos. Na UNI-RIO meu Mestre, o Prof. Annibal
Nogueira Júnior e na Santa Casa e na CEF o Dr. Paulo Cesar de Azevedo.
Eternas saudades dos dois, que muito me ensinaram Medicina e Ética.
Saldo positivo, ou negativo? Para mim e ainda atuando na Cardiologia, saldo
inteiramente positivo. E para alunos e pacientes? Tentei, tentei, só que
sempre se pode formar melhor e desta maneira também atender. “C´est la vie”.
- Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(15 de julho,2015)
CooJornal nº 944
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
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