01/04/2015
Ano 18 - Número 930
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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De início nada com
tons cinzas... E de uma falta de habilidade veio a idéia que nem sempre é tão
ruim a inveja. Então inveja pode não ser sentimento desprezível? Vejamos como
me passou pela mente esta dualidade de tons. Via uma jovem dedilhar mensagem
no seu iphone, ou seja lá qual for a marca de engenhoca, que agora é tudo e já
foi apenas um celular. De minha parte quando tento digitar, o velho dedo
esbarra em outras letras, ou números e qualquer frase é motivo de tentativas
várias. E a jovem, que não dava bola para a conversa dos familiares, pois
conversava com alguém e pelos dedos, digitava com muito rapidez. Parêntese.
Julgo nefasto quando os jovens enclausuram-se no seu mundinho fechado e perdem
contatos familiares. Todavia e diga-se que noutro dia até o corretor do word
encrencou com o todavia e tentou que digitasse outro termo, volto, teimoso que
sou, ao todavia, não faz mal para a menina que inveje sua habilidade na
digitação. Não a quereria para mim, se a menina perdesse a dela. Enfim minha
inveja não é deletéria para a jovem. Em compensação conto duas edições de
inveja perniciosa. Conheço um regular escritor, que, quando outro o bate em
concurso e lê a obra vencedora, raiva terrível ultrapassa seu sorriso,
percebe-se que sua vesícula se contrai, seu coração se acelera e tome despeito
pouco escondido, que até lhe faz mal. Se pudesse, fulminaria o vencedor. E
confesso tolice, nas poucas vezes em que fui alvo de inveja, não gostei.
Tomo-a como agressão, quase física, não fazendo bem aos dois lados. Há até os
que gostam de provocar inveja, não eu. Outra, fomos vários da roda literária à
casa de uma família rica e de gosto. O tal invejoso parecia querer arrebentar
as paredes da pinacoteca com sua inveja e temi até por linda mulata do Di
Cavalcanti em um quadro pendurado na parede principal da sala, fosse
danificada. Aquela casa me fez bem, a ele fez mal. E a ambição? Pobres os que
não possuem ambição. Querer melhoras em qualquer setor da vida, é marca de
progresso, só que sem pisar pés alheios, ou cometer deslizes morais, ou
éticos, ou padecer de ambição invejosa, ferrou. Aí danou-se e o sentimento que
era bom, querer progredir, azedou de vez. Podem perguntar nesta época confusa,
se a ascensão pode ocorrer lisamente? Pode e pode até facilitar a mesma. E o
amor tem tons? Ou é, ou quase não é, ou não é. Amor é o sentimento mais
importante, raro, complexo e inexplicável nos porquês. Muito se fala, muito se
confunde, raríssimos sentem-no. E assim mesmo, ainda que julgue merecedor dos
maiores sacrifícios, o amor não pede que sejam um só. Erra que pensa que pelo
amado, amada, deve se despersonalizar. Ame com todas as suas forças, só que
continue mantendo sua personalidade. A despersonalização, acredito, certezas
em amor nunca se tem, podem matá-lo. Se matou, não era amor. Será? Escrevi a
frase e coloquei-a hipoteticamente na voz característica de Nelson Rodrigues e
me pareceu bem. É elogio a um mestre em pensamentos e paradoxos.
- Comentários sobre o texto podem ser enviadOs ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
(01 de abrilL/2015)
CooJornal nº 930
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
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