01/11/2014
Ano 18 - Número 913
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
Venha nos
visitar no Facebook
|
Não se apoquente, como dizem os filhos do Nordeste, pois não vou falar em
política, ainda que a crônica se inicie pelo meu ato de votar. Voto no
Estádio Hugo Padula há muitos anos. Onde fica? Rio de Janeiro, bairro Grajaú.
Todos os anos voto no mesmo lugar, já disse e só não disse que este estádio
fica no Grajaú Country Clube e já cito uma contrariedade. Este Country, que
de campo não tem nada, foi fundado por um grupo de rapazes em, sei lá o ano,
e entre estes fundadores estava quem deu nome ao estádio. O clube fundado e
com mais viço esportivo que atualmente, originariamente chamou-se Associação
Atlética do Grajaú e com este nome teve vários títulos no basquetebol do Rio
Janeiro e tem até um campeonato na primeira divisão sob a direção do técnico
e jogador Rui de Freitas. E com um passado marcante resolveram mudar o nome
do clube e para um título esnobe, nada condizente com o clube, que tinha por
trás uma pedreira e tradições. Tenho absoluta convicção que minha formação
dependeu de casa e das escolas que frequentei, jardim da infância no Ginásio
Grajaú, primário na Escola Municipal Duque de Caxias, ginásio e científico
Instituto La-Fayette. Formação médica na Escola de Medicina e Cirurgia, hoje
da UNI-RIO. Dois destaques nesta formação são o basquetebol na Associação
Atlética do Grajaú, AAG, cada letra dentro de uma argola olímpica e o
convívio no Diretório Acadêmico da já citada Escola de Medicina e Cirurgia,
onde fui secretário geral por dois anos. E volto às eleições deste ano da
graça, graça por estar vivo, 2014. Votar em cinco categorias e com cola para
não esquecer os números dos candidatos que julguei menos ruins. Face à idade
ofereceram-me passar a frente dos demais. Agradeci e esperei. Teria tirado
vantagem se não ficasse esperando e lembrando-me que aos quinze anos iniciei-me
no juvenil da AAG, naquela quadra de muitas e muitas recordações. No
primeiro dia um jogador já campeão juvenil tropeçou nos meus pés, enfiou a
cara no chão e pensou que o tivesse calçado Quis briga, O técnico mandou-o
ao chuveiro mais cedo e no fim do treino foi ele quem veio pedir desculpas e
ficamos amigos. Um ano ali, uma desavença com o técnico, no ano seguinte
parado por estágio obrigatório ao mudar de clube e aos dezessete anos
titular no juvenil do Grajaú Tênis Clube, por onde cheguei à seleção carioca
de basquetebol. E por que reclamei de ter ficado com reminiscências até
muito ternas. Olhei o chão da quadra e aí veio a terrível decepção. Não
pisava uma quadra de basquete, pois não há mais as marcações deste esporte.
Apenas as do futebol de salão. A AAG era um clube eminentemente de
basquetebol e com muitos títulos de juvenis, aspirantes e até da primeira
divisão. Ficar chateado por não ver linhas do garrafão, as dos três pontos e
as demais marcações do esporte basquetebol? Pimenta nos olhos dos outros é
refresco. Não há mais AAG, não há mais time de basquetebol no Country Clube
do Grajaú e ficou um velho lamentando tolamente não ver linhas de marcações.
Aos meus olhos cometeram um sacrilégio. Reclamei? Não, para que? Votei e saí
carregando um monte de lembranças e lamentando não ver a cesta, que podia
ter sido tirada para facilitar a votação e principalmente não encontrar as
linhas do meu esporte. Como aspirante ainda vesti a camisa da Associação
Atlética do Grajaú. Depois trabalho na Caixa Econômica, família e formação
na Medicina e Cirurgia, aonde fui professor até de filho e neta. Naquela
hora de votação era apenas o menino de quem tinham tirado referências das
suas memórias. Ao menos podiam ter deixado as linhas do basquetebol na
quadra. Nem esta homenagem prestaram a tantos e tantos meninos e meninas que
haviam suado amadoramente as camisas azuis e brancas com as letras A A G nas
argolas olímpicas!
(01 de novembro/2014)
CooJornal nº 913
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
Direitos Reservados
|
|