10/07/2014
Ano 18 Número 899
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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“Não é jabá, pois nem sei se o tal remédio ainda existe e até porque sou
cardiologista e não ginecologista. Uso apenas o estranho título do
medicamento, pois falava em excesso e escassez”.
Os meus dezessete leitores e a frase é plagio do humor às vezes contundente
demais de Agamenon Pereira, aquele cronista dominical de O Globo, que deixava
um Dodge velho, em que ficticiamente morava em frente ao jornal e falava de
sua mulher Izaura, que era levada da breca.
E volto ao início, meus dezessete leitores viram que em crônica pregressa,
aqui no CooJornal, do Rio Total, falei sobre vícios e destaquei alcoolismo e
excesso de permanências em computadores e assemelhados. Hoje vou falar ao
contrário e sem querer ser aquela metamorfose ambulante do Raul Seixas.
Introito transposto penso em vários amigos que relutam em usar a internet. A
crônica vai parecer até o Regulador Xavier, o amigo de confiança da mulher,
Número 1 excesso, Número 2 escassez. Na crônica “Vícios” combati excessos e
nesta destaco amigos que não querem nada com o computador, fato que lhes
entrava a vida. E logo, já que são amigos, vão se insurgir contra a afirmação,
negar que a computação seja necessária, que vivem muito bem sem ela, que
escrevem, leem, fazem palavras cruzadas, são cinéfilos, vivem enfronhados nos
problemas familiares e políticos, acompanham séries das TVs etc. Quem nunca
comeu chocolate, como vai dizer que chocolate não é bom? Computação não dá
trabalho? Dá e como! Vivo levando pancadas deste desktop e perdendo muito
tempo, tentando conhecê-lo e acertar com suas mumunhas. Muitas vezes penso em
lançá-lo deste oitavo andar e vê-lo espatifar-se na calçada grajauense ao lado
do flamboyant.
Logo após fazemos as pazes, pois sei que minha vida intelectual, profissional,
familiar e até em relação à saúde mental precisa muito dele. E, confesso
contrito, que tenho evitado os assemelhados, ipad, ipod, celulares
complicados, tablets etc, etc e não tenho auferido as inúmeras vantagens
destes, até para chamar táxis. Minha maior amiga também não gosta de
computador, ainda que a família em coro reclame de sua idiossincrasia pela
computação. Quanto e.mail lindo tenho vontade de passar-lhe e fico na vontade.
Um belo e novo notebook apenas enfeita sua escrivaninha, calado e triste.
Outros dois amigos, presidentes de associações literárias, cultos, antenados,
também fogem de computadores. Provem o chocolate e com boa
vontade. Façam experiência de um mês e com professor especializado, não com
aquele parente sem tempo, que acha tudo fácil e ensina grego, como se fosse o
beabá. Enfatizo, não sabem o mundo maravilhoso que estão perdendo, não usando
computadores até para a vida prática! Estou sendo insistente, chato? Aceito,
só que a grande amizade faz com que persista e sempre neste conselho.
Amigos têm estas às vezes desagradáveis funções e se são de fato amigos.
(10 de julho/2014)
CooJornal nº 899
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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