25/04/2014
Ano 18 - Número 889


 

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PEDRO FRANCO

 


 

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Pedro Franco



Em defesa do eletrocardiograma

Pedro Franco - CooJornal

A eletrocardiografia já completou cem anos de utilidade em 2001, inventada que foi em 1901 por um javanês, Willem Einthoven, que muitos pensam ser holandês, pois a ilha de Java, onde nasceu, pertencia à época às Índias Orientais Holandesas. O invento teve por base o eletrômetro capilar de Lippmann. Minha intenção principal é fazer a defesa do método complementar eletrocardiograma, muitas vezes injustiçado. Se pensasse em uma única frase para sintetizá-lo, escreveria: Para valorizar devidamente este método, será necessário conhecer suas limitações. Pois as há. Argumentando contra os detratores do eletrocardiograma, posso indagar que outro exame tem o cardiologista ao seu lado no consultório, dando muitos e importantes informes? Apenas o eletrocardiograma. O paciente pode fazer um eletrocardiograma, o mesmo estar dentro dos limites da normalidade e ser acometido por um enfarto do miocárdio logo depois? Pode. Diga-se, raramente. O paciente pode ter uma doença coronariana, não ter sintomas e o eletrocardiograma estar normal? Pode. Estaremos falando de situações excepcionais e há outras e cabe ao médico, conhecendo as pequenas limitações do exame, apelar para outros exames que a clínica, ou os fatores de risco para doenças coronarianas, indicam. Pode-se citar outros exames que complementam o eletrocardiograma e apenas para exemplo: ecocardiograma com “doppler”, cintilografia tomográfica de perfusão miocárdica, tomografia computadorizada cardíaca, ressonância magnética cardíaca e cateterismo cardíaco, além de exames de laboratório clínica. Katz deixou um conceito que expressa a importância do eletrocardiograma em relação às arritmias: _ A eletrocardiografia é o supremo tribunal das arritmias cardíacas. Ainda que bombástica a frase mostra que nenhum exame é tão útil e indispensável no diagnóstico das arritmias cardíacas quanto o eletrocardiograma. E basta listar, além das arritmias cardíacas, a indicação em bloqueios de ramos, síndromes coronarianas, hipertrofias atriais e ventriculares (ainda que nestas últimas duas indicações existam exames mais fidedignos) e em muitas outras doenças e síndromes cardíacas e sistêmicas onde o EKG é útil. E há importantes exames baseados fundamentalmente na eletrocardiografia, como as provas ergométricas, a eletrocardiografia dinâmica (dito Holter), o eletrocardiograma de alta resolução, o hissigrama, o estudo eletrofisiológico, a monitoração permanente dos pacientes em cirurgias e em Centros de Tratamento Intensivo, além do exame servir de base para tantos outros procedimentos em Cardiologia. Portanto o exame inventado por Mestre Einthoven, que inclusive ganhou o Prêmio Nobel em 1924, continua com inteira validade. Cabe ao médico criterioso conhecer as limitações da eletrocardiografia, para valorizar este exame complementar devidamente. Duas últimas indagações: Que exame cardiológico pode dispensar um eletrocardiograma? Que outro método o cardiologista tem em seu consultório para assessorá-lo e fornecer preciosas informações, mesmo naquelas condições onde há limitações? Pensando na verdadeira nacionalidade de Einthoven, vem uma indagação estapafúrdia e pretendo hilária: Seria Einthoven “O homem que sabia javanês” (excelente conto de Lima Barreto)?

(Artigo em modesta homenagem ao Prof. Ivan Gonçalves Maia, mestre de nós todos em arritmias cardíacas)
 


(25 de abril/2014)
CooJornal nº 889



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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