10/04/2014
Ano 18 - Número 887
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Os meus bichos fugiram neste ano. Que bichos? Micos, esquilos, jacutingas,
raposas (acreditem, houve em 2013 um casal e noturno. Tive certeza, pois ficou
cega pelos faróis do automóvel e pudemos vê-la bem. Era de fato uma raposinha.
Ou raposinho, não sei). Apareceu uma paca, vinda provavelmente do Piabanha.
Ficaram os pássaros e os sabiás estão mais parrudos e vi um pássaro que não
sei o nome. Solitário, corpo negro, cabeça branca com topete, tamanho de
pombo, sem a bonomia deste. Só apareceu uma vez. E por que os meus bichos
desapareceram? A pousada está em expansão e ainda que hóspedes não sejam
atrapalhados, de oito às dezesseis horas há mais ruídos e os meus companheiros
matinais escafederam-se. Eles ficaram na mata e, andando quarenta minutos com
passo estugado, vou ouvindo as músicas brasileiras que o neto Maurício pôs no
“ipod”, saltadas, ou sequenciais, conforme me dá na veneta. Chico, Vinicius,
Elis, Tim Maia, Nara, Caymmis, Simonal, Milton Nascimento e por aí, até
Elizeth em Meiga Presença. Do belo caminho principal da pousada vejo o rio
Piabanha, onde há pelo menos 68 anos pesquei bagres com meu pai. Andar, ouvir
e pensar durante as férias, diferentes até porque dei entrevista no domingo de
Carnaval sobre meu livro "Da Sapucaí ao Caju", pela Paco Editorial, edição de
Katia Ayache, à Rádio CBN. O âncora Alves de Mello conduziu o estreante por
logos quinze minutos e entre mortos e feridos salvaram-se todos. Houve também
entrevista para o jornal Tribuna do Espírito Santo, onde saiu que sou paulista
e vem à minha mente brincadeira de Vinicius, "não gosto de São Paulo, pois
anda-se, anda-se e não se chega a Ipanema." Houve dias aparentemente sem sol.
E o sol está lá e nuvens encobriram. Comparo a determinados amores, estão lá e
o outro cobriu-o com tolices, futilidades e depois não há vento que as
despreguem e deixe aparecer o amor, que até pode procurar outro terreiro para
ensolarar. Neste pensamentos ao léu, veio algo que tem muito me preocupado.
Muitos fazem política, como se torce por clubes de futebol. Uma vez
Fluminense, sempre Fluminense, ainda que a frase original fale de coirmão. O
indivíduo manter-se fiel ao clube, mesmo que vá à segundona e o Flu foi até a
terceirona, é fato meritório. Em política por patriotismo, eta palavra
esquecida! não se pode ser assim. Votei no partido A, que venceu e foi
governo, municipal, estadual, ou federal. E este grupo partidário meteu os pés
pelas mãos e às vezes usando até cuecas para esconder dólares espúrios. O
indivíduo é inteligente, sabe que aquele grupo não mais é o melhor para o
País, mas não quer dar o braço a torcer. Há outro partido agora menos ruim, só
que não vou dar o prazer de mostrar que mudei. E continua a apoiá-lo, apesar
de mal feitos e corrupções. Esta manutenção de posições políticas e muitas
vezes não há interesses financeiros em jogo, que o indivíduo é honesto,
parece-me absurda. Não se quer que o indivíduo seja a Metamorfose Ambulante do
Raul Seixas. Por patriotismo, amor ao País, aos pobres do Brasil, sem qualquer
ranço de demagogia, é necessário mudar, mesmo se for para um menos ruim. Tenho
sempre um exemplo para defender o voto desapaixonado, mesmo quando as opções
não animam. Tenho um cargo a preencher, há vários candidatos, nenhum é o
ideal. Que faço? Deixo o cargo vago, ou tento o menos ruim? A lógica, a sua
inteligência, mandam mudar de concepção política, só que a vaidade determina
uma vez Flamengo sempre Flamengo. Quarenta minutos, passo rápido, pulso
regular com cento e vinte batimentos por minuto. Vi um casal de canarinhos da
terra, que beleza! Por hoje é só.
(10 de abril/2014)
CooJornal nº 887
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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