25/03/2014
Ano 18 - Número 885
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Pedro Franco
Fescenino ou casto?
(segundo com salpicos do primeiro)
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Nenhum velho deseja ser um fescenino, ainda que moços costumem ser menos
fesceninos que velhos. Será? Está é minha visão. Só que converso mais com
velhos que com moços e se converso com os mais jovens não consigo chegar ao
poço das suas emoções recônditas, até porque ou são netos, ou amigos deles, ou
meus ex-alunos, ou jovens clientes. E a que vem o uso deste adjetivo pouco
usado, ainda que faça parte do título de livro de um de meus autores
prediletos, Rubem Fonseca, “Diário de um Fescenino”, 2003. E não conhecia o
termo. Fui a um dos pais dos burros cibernético, “wilktionary” e, para poupar
tempo de algum leitor, que não conhecia o termo, feito eu, aí vai, antes de
deixar fluir o escrito, que antevejo complicado, face ao assunto e ainda mais
quando não desejo ser colocado no rol dos fesceninos. Fescenino, 1- gênero de
versos libertinos da Roma antiga. 2- obsceno, devasso e abaixo vêm vários
sinônimos mais ou menos do mesmo teor e nos antônimos põem puro e casto. Destes
últimos adjetivos estou fora, ainda que infelizmente. Quem chega à minha idade
puro, ou casto, por mais que se esforce? Faz lembrar velha piada, quando
Manoel foi encomendar flores para o funeral da irmã. Seu Manoel me desculpe
explicar. Se sua irmã era casta, são indicadas flores brancas; se era uma
mulher, digamos, vivida, flores roxas. Manoel pensa, pensa, sabe que com a
morte não se brinca e recomenda. - Flores brancas com uns salpicos de roxos.
Quem dos velhos não leva uns salpicos roxos? Tudo foi preâmbulo e talvez ao
final fiquemos como as lutas muito em voga. Aparato, sensacionalismo,
audiências no Brasil de madrugada, regadas a cervejas e vodcas, rinque em Las
Vegas e em poucos minutos acaba a luta e um lutador baixa hospital para
cirurgia. Esporte, ao qual juntam-se jovens para ver? Pior só BBB. Volto ao
fescenino. Em jovem tinha especial apreciação estética por seios. Nada a ver
com fetiches, apenas por julgá-los lindezas esculturais e valorizá-los até
pela amamentação. Vale dizer que sempre apreciei pictoricamente mulheres como
um todo, em que alma e corpo são admirados em conjunto, danando-me com
costureiros que teimam em enfeá-las, ajudados por excessos físicos nas
academias de ginástica, mais silicones e bisturis indevidos. E eis que de
seios, alguns estereotipados por turbinações grotescas, passo a entreter-me
respeitosamente com andares e apreciando-os pela retaguarda das beldades.
Friso, respeitosamente! No passado havia as moças reboleiras, onde as saias
eram dançantes, belas, ainda que vulgares. Nos antigamentes também havia
música de roda que dizia “rebola bola, você diz que dá que dá, você diz que dá
na bola, na bola você não dá”. E torcia-se para que as meninas bonitas, para
pagar prendas, fossem ao meio da roda e tome rebolado. Letrinha velhaca, ainda
que aceita pelas meninas das melhores famílias e ouvidas pelas genitoras e
avós sem qualquer agravo. Nada a ver este rebola bola com o que destaco
atualmente e uso de novo o termo respeitosamente. Vale afirmar que deixo fora
exageros e belezas calipígias e fico com raras moças que têm molejos e
malemolências especiais no andar, dando-nos coreografias espetaculares
(calças, bermudas, ou calções apertados em excesso atrapalham
coreograficamente as duas artistas, uma sobe, outra desce e vice-versa). Só
que rapidamente passam, pois, algo que me dana na velhice é a perda da
velocidade no andar. Qualquer mocinha, baixinha, gordinha e até as com poucos
atrativos, vence-me com facilidade e lá se vai. Dos marmanjos nem falo e fico
mesmo em maratonas de duzentos metros com outros velhinhos. E então para que
serve a crônica? Para recomendar às minhas senhoras e aos meus senhores, como
nos melhores discursos, deixando autoridades, que estão penalizadas por
malfeitos, de fora de minha saudação, que apreciem o espetáculo, raro, porém
de visual recomendável, pois todo o corpo feminino participa, ainda que com
duas atrizes principais, que devem seguir balanços e meneios com graça,
leveza, total falta de vulgaridade, modéstia e beleza. Sou fescenino por esta
nova alegria visual e sem inconveniências? Julgo que não. Ainda que devam
ocorrer julgamentos diferentes. Mestre Nelson Rodrigues, adorável fescenino,
reclamava de unanimidades.
(25 de março/2014)
CooJornal nº 885
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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