
15/12/2013
Ano 17 - Número 870
ARQUIVO
PEDRO FRANCO


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No fim de cada ano mandamos e recebemos cartões de Natal. Receber, ler,
emocionar-se, ou não, dependendo de quem vem e porque foi postado, ter uma boa
lembrança de quem o enviou, retribuir votos. E lixo. Pensamos que já cumpriram
sua missão, emocional, ou meramente social. Os colecionadores guardam por um
período e depois as mensagens ganham o mesmo caminho. Lixo. Os cartões de
namorados e amantes ficam fora desta crônica, pois cabem nas mesinhas de
cabeceira, ou nas escrivaninhas, pelo menos até que estes amores acabem-se, ou
fiquem eternos. E se eternos nem de papéis precisam. Alguns ainda arranjam
para os demais cartões lugares juntos às árvores de Natal e eles sobrevivem
por mais algum tempo. Nestes últimos anos os há com músicas, ou frases,
acionadas ao se abrir o cartão. Algumas lindamente cafonas! Recebi três assim
e confesso que me encantaram. Mesmo estes, principalmente quando se acabam as
pilhas, ganham as latas de lixo e seus sacos plásticos. E a época de Natal
costuma ser quente emocionalmente e é também período de preocupações
financeiras, pois há presentes, ceias e listas e mais listas, que, ao
contrário do que deviam ser, tornaram-se obrigações sociais. Comemora-se o
nascimento de Jesus, é preciso sempre lembrar. E os cartões de Natal, alguns
com dizeres próprios e diferenciados, com calor humano e afetividade, são
lidos com rapidez, quando se chega do trabalho e estão com a pilha da
correspondência diária, onde avultam contas. Assim os cartões nem sempre são
saboreados, como mereciam. Eis o ponto, há cartões que por seu contexto, por
seus dizeres, por sua emoção, porque têm um autor (a) especial, vêm carregados
de carinho, amizade, ou gratidão, mereceriam leitura mais atenta, afinada com
o texto e a intenção de quem os enviou. Muitas vezes o texto impresso perde
para o que está escrito de próprio punho, ou mesmo não está escrito e que
aflora pelos laços de afeto, que ligam quem manda e quem recebe. Merecem enfim
uma segunda leitura, em tempos mais calmos, passadas as aflições do fim de
ano. Quem sabe se alguns merecem uma doce leitura a dois? Espere-se a chegada
do Dia de Reis, a rearrumação da casa e vamos reler os cartões de Natal,
guardar mesmo alguns, se houver espaços nos nossos armários e principalmente
na nossa emoção. É esta uma forma de encompridar o Natal, valorizando o belo
período, onde um balanço do passado, presente e futuro impõe-se. Por favor,
não reclamem do balanço do futuro. Algumas mensagens ganharão nova vida,
emocionarão de novo, mostrarão que somos lembrados e queridos, ainda que só
partilhemos estes sentimentos com alguns parentes e amigos nos Natais. E temos
mais de trezentos e sessenta e cinco dias pela frente, para reafirmar
amizades, regar afetos, exercitar muito do espírito da época, cada um à sua
maneira e de acordo com as esperanças. E Natal é época das esperanças,
renovadas, para o ano que se inicia. E assim seja em todos os Natais e seus
enternecedores cartões, lidos e relidos no dia dos Santos Reis.
(15 de dezembro/2013)
CooJornal nº 870
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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