23/08/2013
Ano 16 - Número 854
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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- Então disse umas poucas e boas! Não diga.
- Ele morreu e não disse quanto o amava. Assim um padre escreveu sobre o
irmão, que morrera. Foi uma pena não ter dito o quanto amava o irmão, que
tinha apenas proposições de vida diferentes das dele, padre. A boa palavra
deve ser sempre dita, de amor, amizade, conforto, de fé. A palavra de raiva,
zanga, ou de ressentimento, que foi dita, raramente valeu. Muita coisa amarga
pode e deve ser dita, só que não na hora das poucas e boas, na hora da raiva.
- Veio uma raiva e aí eu disse. Disse o que devia e o que não devia, falou
demais, ultrapassou o que o bom senso recomendava, pois a raiva, o
aborrecimento, toldaram a razão e uma porção de tolices e verdades saíram
juntas. Depois vem a calma, o arrependimento, mas o dito ficou, magoou e não
resolveu.
Já ouvi, em contrapartida, esta frase de um homem culto, inteligente, a
respeito da mulher que falecera e com quem fora casado por mais de quarenta
anos, vivendo em harmonia: - Ela morreu, sem eu dizer quanto gostava dela,
quanto a amava!
- Agora não me calo. Vou dizer minhas verdades, doam a quem doer. Não disse
para calar-se, que seria mal recebido. Recomendei, quando estava em estado de
calma, que voltasse à contenção do passado. Na dúvida, nada diga. O tempo é um
ótimo restaurador, para o que não se disse de ruim, em hora de raiva. Também
não perdoa, quem deixou de falar de um sentimento puro, verdadeiro, que
criaria um encantamento. Diga-lhe, não deixe de dizer, enquanto ainda há
tempo. Depois... Fale, escreva, grave, mas diga, hoje, agora. Vamos! Com uma
flor e um eu te amo, quem sabe? Parece-me uma ótima maneira de iniciar, ou
reiniciar, ou manter um amor.
(23 de agosto/2013)
CooJornal nº 854
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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