26/07/2013
Ano 16 - Número 850
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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A série Monk de televisão acabou. E estou de ressaca. Término de um bom livro,
exemplo “Equador”, o “the end” de alguns filmes, vide “Amacord”, da
minissérie, “Os Maias”, ou mesmo de uma série, Monk, deixam-me com uma espécie
de ressaca, um tipo quero mais. Monk é das chamadas séries enlatadas
americanas, tão criticadas entre nós. Estas séries recebem a mesma conotação
crítica das novelas brasileiras. São apupadas, mas vira e mexe há uma de que
gostamos e aparecem esnobes que ficam encabulados de gostar de determinadas
novelas. Algumas são de fato terríveis e estereotipadas. Adrian Monk,
representado por Tony Shalhoub, compunha um detetive diferente, neurótico,
depois que sua mulher foi assassinada e ele, que descobria tantos crimes, não
elucidou aquele. Com seus problemas emocionais precisa de permanente
acompanhante, que cuida dele e duas artistas fizeram o mesmo papel. Víamos um
capítulo por semana, domingo, quando calhava. E Monk é genial, ainda que suas
neuroses sejam fatores limitantes. Um chefe do Distrito e seu auxiliar
aparecem em todos os episódios e dão cores verídicas e gaiatas aos enredos.
Monk parece-me difícil de conceber, porque o detetive tem algo de Sherlock
Holmes, isto é, busca a dedução para desvendar assassinatos. E arrumar isto
durante seis anos não é fácil. Raramente um capítulo tornava-se menos
consistente e sempre a inventividade de raciocínio de Monk dava um cunho
lógico ao final. E o herói mostra suas fraquezas pessoais, é paciente
psiquiátrico com várias manias, inclusive as de limpeza, não tendo aquele
estigma rotineiro do cavaleiro sem medo e sem mácula, que atinge vários heróis
televisivos, ou não. Monk, já disse, só não descobrira o assassino de sua
mulher Trudy e em alguns capítulos aquela mácula aparecia e deixava-o
frustrado. Mais ou menos doze minutos, anúncios e durante uma hora
acompanhávamos o detetive e sua gentil acompanhante Natalie. Nos últimos
capítulos aparece um namorado para Natalie. Nada de fazer “happy end” amoroso
entre Monk e Natalie, representado pela ótima atriz Traylor Howard (antes
Sharona – Bitty Scram), que o escritor valoriza seu trabalho e não busca os
tolos fins felizes de muitos filmes e séries marca Hollywood. E os dois
últimos domingos marcaram o fim da série. Meio capítulo em um dia e o término
sete dias depois. Monk descobre quem matou Trudy e melhora sua concepção de
vida pessoal, ainda que tente deixar sua atividade de detetive. O escritor não
deixou a série ficar sem interesse. Percebeu que o filão estaria por
esgotar-se e soube findá-la sem que caísse o interesse pelo personagem, o que
é fato raro. E agora ficamos sem série para ver? Monk era aos domingos e como
não vimos muitos capítulos, temos o quarto anos em DVDs para consolo. Monk,
que tinha até uma música introdutória porreta, com letra esperta, já era.
Ficou para vermos, minha mulher e eu, o Law & Orden, Special Victims Unit, com
Mariska Hargitay e Cris Meloni, e “supporting cast” primoroso. De segunda a
sexta, às dezenove horas. Estão repetindo demais os mesmos capítulos, até
quatro vezes e julgo esta repetição um desrespeito ao telespectador. Esse L&O
é ótimo e há outro L&O, além do SVU (este, elogiado e pergunto como Mariska
Hargitay, filha da peituda Jane Mansfield, não ganhou o grande cinema? – que
classe!), parece-nos menos empolgante e pouco vemos. Volto ao assunto Monk e a
crônica serve de respeitoso réquiem. Somos gratos pelos ótimos momentos de
divertimento que nos proporcionou. “Acabou-se o que era doce, quem gostou,
arregalou-se”. Terminou quando e como devia. Parabéns ao autor. E só fui saber
o nome hoje em consulta ao Google: Andy Breckman. Sem escritor, sem criador,
nada teríamos de bom. Na pena, na digitação, na concepção, tudo começa.
(26 de julho/2013)
CooJornal nº 850
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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